quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ninguém nos dirige boas palavras nestes tempos que correm, somos como leprosos no tempo de Cristo, mas sem a Sua compaixão nem curas milagrosas e muito menos direito a menção na Bíblia.
A insidiosa imprensa britânica em contrapartida chama-nos PIGS, e diz a wikipédia que estas nossas economias do Sul são também consideradas economias porcinas, e que isto aqui no Sul é o Olive Belt, o Cinturão da Azeitona. (Um parêntesis para uma tirada muito oportuna e engraçada: o Cinturão da Bíblia já é depreciativo, agora da azeitona, mais não sei quê economia porcina, é assim: nós até já tínhamos percebido que estávamos abaixo dos leprosos da Sagrada Escritura, agora é demais não reconhecer ao menos que o bacalhau é que vai bem com azeite, e que o porco gosta mesmo é de bolota). As estúpidas agências de rating americanas consideram-nos um monte de lixo. O desbocado Presidente República da República Checa humilhou o Presidente da República de Portugal. O sonso Obama usa-nos como um pai de família cita o exemplo de um delinquente numa conversa de família. A merkel Merkel merkela-nos como a merkel. Será que não percebem que não se resolve nada chamando nomes? Será, seus neoliberais anglo-saxónicos, capitalistas selvagens, antieuropeus oportunistas, imperialistas ignorantes, nazis disfarçados? Não entendem isso? O que é que falta? De onde virá, pergunto-me, de onde virá o próximo ataque? A Nova Caledónia virá dizer que cheiramos a sardinha? Madagáscar descerá a terreiro para declarar insuportável o nosso estado maníaco-depressivo com a história da saudade? Ou será o Passos Coelho que nos chamará piegas? Hã? Pois foi. Foi mesmo o africanista de Massamá.
Por mais que puxássemos pela imaginação, nunca nos ocorreria tal proveniência para novo ataque. Duas observações de imediato, no entanto: «piegas» é já uma grande evolução, face a «pigs». Não só pela introdução de duas vogais, que suavizam em termos fonéticos e de percepção da intensidade do qualificativo, como sobretudo em termos semânticos; e, em segundo lugar, porque o Pedro Passos não nos chamou exactamente aquilo: ele fez uma alusão, como quem usa o exemplo dos maus (e piegas) alunos que não devemos ser. Pois entende ele que devemos, isso sim, é ser na Europa como os bons alunos, que os há também em Portugal: aqueles que estudam, se dedicam e esforçam. E tiram cursos. Para acabar a viver de ajudas, sem ter por onde ganhar a vida nem perspectiva alguma de futuro à vista. Assim devemos ser nós na Europa. Foi isto, e era mais ou menos isto, o que acho eu que ele tenha talvez, no fundo, querido dizer. Acho eu.

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