quarta-feira, 2 de maio de 2012


Aqui se vai lá. Eis pois:
É finalmente Primavera, mas porra, pela primeira vez desde o 25 de Abril houve tumultos no 1º de Maio! Tumultos! Não por ideologia, mas pela causa das mercearias. E tau, muita carga policial nas donas de casa. Ó sim, pin-go-do-ce-ve-nha-cá!!!
 Hein?! Música linda! 
 Nesta linha de panorama, os gregos têm muito a aprender, que seja a não arriscar a pele e os ossos de mãos a abanar. Os portugueses só de sacos a abarrotar, é nabiça! 
Quando deixados à solta, nós damos sempre espectáculo. Compare-se com o aborrecimento do 25 de Abril: cerimoniosices lúgubres, arrufos fanfarréticos, azias instituciosas. É o que dá organizar e pensar, em geral, coisas.
Antes deixar-nos: celebrando protestamos pelo trabalho o consumo do feriado no nosso próprio reality show.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ninguém nos dirige boas palavras nestes tempos que correm, somos como leprosos no tempo de Cristo, mas sem a Sua compaixão nem curas milagrosas e muito menos direito a menção na Bíblia.
A insidiosa imprensa britânica em contrapartida chama-nos PIGS, e diz a wikipédia que estas nossas economias do Sul são também consideradas economias porcinas, e que isto aqui no Sul é o Olive Belt, o Cinturão da Azeitona. (Um parêntesis para uma tirada muito oportuna e engraçada: o Cinturão da Bíblia já é depreciativo, agora da azeitona, mais não sei quê economia porcina, é assim: nós até já tínhamos percebido que estávamos abaixo dos leprosos da Sagrada Escritura, agora é demais não reconhecer ao menos que o bacalhau é que vai bem com azeite, e que o porco gosta mesmo é de bolota). As estúpidas agências de rating americanas consideram-nos um monte de lixo. O desbocado Presidente República da República Checa humilhou o Presidente da República de Portugal. O sonso Obama usa-nos como um pai de família cita o exemplo de um delinquente numa conversa de família. A merkel Merkel merkela-nos como a merkel. Será que não percebem que não se resolve nada chamando nomes? Será, seus neoliberais anglo-saxónicos, capitalistas selvagens, antieuropeus oportunistas, imperialistas ignorantes, nazis disfarçados? Não entendem isso? O que é que falta? De onde virá, pergunto-me, de onde virá o próximo ataque? A Nova Caledónia virá dizer que cheiramos a sardinha? Madagáscar descerá a terreiro para declarar insuportável o nosso estado maníaco-depressivo com a história da saudade? Ou será o Passos Coelho que nos chamará piegas? Hã? Pois foi. Foi mesmo o africanista de Massamá.
Por mais que puxássemos pela imaginação, nunca nos ocorreria tal proveniência para novo ataque. Duas observações de imediato, no entanto: «piegas» é já uma grande evolução, face a «pigs». Não só pela introdução de duas vogais, que suavizam em termos fonéticos e de percepção da intensidade do qualificativo, como sobretudo em termos semânticos; e, em segundo lugar, porque o Pedro Passos não nos chamou exactamente aquilo: ele fez uma alusão, como quem usa o exemplo dos maus (e piegas) alunos que não devemos ser. Pois entende ele que devemos, isso sim, é ser na Europa como os bons alunos, que os há também em Portugal: aqueles que estudam, se dedicam e esforçam. E tiram cursos. Para acabar a viver de ajudas, sem ter por onde ganhar a vida nem perspectiva alguma de futuro à vista. Assim devemos ser nós na Europa. Foi isto, e era mais ou menos isto, o que acho eu que ele tenha talvez, no fundo, querido dizer. Acho eu.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ao Manuel José, num estádio de futebol do Egipto, quase lhe fazem a jihad (que quer dizer folha), e ele ainda hesita em deixar ou não clube. Entretanto o Cristiano Ronaldo, só porque ouve alguém espirrar no Bernabéu, já pensa em pôr-se a milhas. Às vezes o futebol parece mais um mundo doido.
Quanto a Portugal, há pessoas que dizem que vamos lá, e que há bons sinais já, e outras que não, que não há volta a dar aos problemas de fundo. Prémios Nobel, dirigentes de instituições internacionais, qualquer marreco no café, tanto faz. Até o New York Times já opina – que não, que não, ou que há-de ser muito difícil, muito difícil, exactamente o mesmo que diz o marreco do café, que não, que não, ou que será muito difícil, muito difícil. Assim até eu posso ser marreco do café (acho que não vamos lá, ou então que vai ser muito difícil).
Agora compreendo o Manuel José.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não é que não esperássemos austeridade, ou que ela até não tenha a sua graça, sobretudo quando recai sobre os outros. A Grécia não, coitada, a alta finança aventureira, os especuladores, se é que isso alguma vez se viu. Ou sobre a gordura do estado, também era engraçado. Agora em nós está a tornar-se muito monótono.Quando é que vão acabar os anúncios de NOVOS pacotes de austeridade? Nós, e mais meia dúzia de nabos como nós, acabamos sempre por descobrir as derrapagens nas contas das jantaradas aqui do pessoal d’OMesmo. Normalmente derrapamos nos whiskies. Dá um certo trabalho, mas mesmo sem prestar grande atenção a mais nada senão às mais variadas conversas de chacha, mesmo sem sabermos a tabuada, mesmo empanturrados, mesmo alcoolizados, lá acabamos por acertar com as contas. Como é que o exército de contabilistas abstémios que o Governo tem à disposição não dá conta das despesas da nossa jantarada nacional? Como explicar que tantos economistas virtuosos que compõem o Governo se estejam sempre a deparar com novos buracos, e sobretudo como é que antes estavam tão seguros de que não iriam aparecer? Não sabemos já se um grupo de dentistas, ginecologistas ou mineiros não faria melhor o trabalho, se o problema está realmente nesses malditos buracos. Ou talvez de coveiros.
Bom. As linhas principais do orçamento foram ontem apresentadas pelo chefe do Governo, e oh desilusão, não ouvimos nada de específico sobre o que mais aguardávamos, a criação de vários subsídios para o sector dos blogs, mas, para sermos justos, também não houve ninguém que se tenha ficado propriamente a rir com aquilo.
Os desfavorecidos e desgraçados em geral, sempre a escapar às medidas extraordinárias, a safar-se à grande, pelo menos agora não se hão-de regalar com o leite achocolatado: o famoso e polémico produto vai passar para o escalão mais alto do IVA. (Ai! Por São Jorge, oxalá tudo isto seja realmente necessário, para que o resto realmente melhore e realmente passe; é demasiado triste quando nos começamos a preocupar com o enriquecimento do leite com açúcar e cacau; o leite achocolatado não é de certeza a liquidez mais ilicitamente enriquecida que temos, muito menos aquela que nos deveria preocupar; a propósito ouvimos agora mesmo nas notícias que afinal é o leite aromatizado que está em causa; sentimo-nos mais parvos ainda.)
Os funcionários públicos gostariam que as eleições passassem a ser um acontecimento anual, para serem anualmente aumentados, mas quanto a isso não há nada a fazer (excepto tornar o país mais produtivo e bem governado, enfim, deixem-nos rir). Como, pelo contrário, a cada buraco ou derrapagem são os primeiros a ser «diminuídos», também não se ficarão a rir. Que era só o pior que nos podia acontecer, ficarmos agora com funcionários públicos carrancudos e pouco sorridentes.
Os trabalhadores do sector privado deverão trabalhar mais meia hora por dia, talvez que se fossem antes mais uma ou treze horas por dia o problema estivesse resolvido já no final deste ano.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mais más notícias. Já lá vamos à Madeira. Lemos nos jornais que os manuais de cristalografia estavam errados: afinal há «quase-cristais». Nossa Senhora! Manuais de química para nós acabou, que desilusão, a sério. Já andávamos sem vontade de ler jornais, então agora se até a secção de ciência deixa uma pessoa desenganada, perdemos de todo a coragem. As bolas do Banco de Portugal, aproveitamos para dizer, e a propósito de desilusão, bem como as de outras entidades, por exemplo as bolas do Governo, devem ser disso, desse tal quase-cristal. Pois se não, como explicar que se estejam sempre a enganar nas previsões económicas? Se tivessem bolas de cristal como deve ser, mas não.
(Pensando melhor no assunto, só quando fez a supervisão do BPN é que que o Banco de Portugal mais parecia ter bolinhas de cristal, mas essa é outra conversa.)
Tudo isto não passa ainda assim de quase-ninharias, comparado com a angústia que temos a propósito dos manuais dos cristais e dos quase-cristais. Que chatice. Afinal estavam errados. É como a Madeira. Mas nem é por nada, agora só por qualquer coisa ser uma chatice fica igual à Madeira, tens uma dor de dentes, é como a Madeira, desgosto de amor, é Madeira, sofres de diarreia ou és um inadaptado social, isso é tão Madeira, metade dos males do Mundo, é a Madeira. Tínhamos prometido a nós mesmos, há já duas semanas, não falar mais neste assunto, mas também nós somos iguais à Madeira! Dá para acreditar? Não, exacto, a questão começa logo por ser essa, muito Madeira.
Enfim, governo da Madeira (e mais não sei quem (até certas entidades nacionais (como por exemplo algumas já referidas (sim, que de alguma coisa saberiam (no mínimo)))), mas o que importa é que se descobriu que afinal existiam quase-facturas. Quase-não-se-acredita-de-avultadas-que são, os manuais estavam errados, mas agora alguém vai ter de pagar a mais-que-certa-conta.

Diz o exaltado líder da Madeira entretanto, exaltado mas pouco ralado, que sim, gastou, mas fazendo obra. Que bom. Precisamos imenso no país de gente que tenha tido a coragem de se querer endividar ainda mais que o Sócrates, ou mais ou menos ao mesmo nível que ele. Tudo à grande, a banca a emprestar, os construtores a construir e o exaltado líder a inaugurar.
E que razão ele tem quando diz que no resto do país, com muito menos obra, também cresceu a dívida. Pois sim, dizemos nós: o governo da Madeira endividava-se com as obras, e o governo da República, entre outras coisas, endividava-se com a ajuda financeira à banca. Para esta poder continuar a emprestar ao governo da Madeira, apetece dizer, e pode bem ser verdade, só não sabemos ao certo se é ou não porque o Google às vezes não percebe o alcance de certas perguntas. Mas para palpite está bom, e como quase-facto serve na perfeição.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os serviços secretos portugueses, num edifício exteriormente insuspeito, abrem, compilam, analisam, informação, estatísticas, dossiers. Supercomputadores alinhados, diligentemente trabalhando, pessoas de aspecto comum, porém compenetradas, com certo aprumo nos modos. Gabinetes a perder de vista, como favos numa colmeia apinhada e tensa. Abre-se uma porta. A criada tem de entrar de olhos vendados, com o carrinho das bolachas e do chocolate quente. Um agente encosta-a de repente à parede gritando-lhe aos ouvidos «Quem és tu?», «A tua escrava!», «Diz mais alto!», «Ahh».
São homens duros. Brutais às vezes, com certo aprumo nos modos, se possível. Acima de tudo, fazem o seu trabalho. «Quem és tu?», «Sou um carrinho inteligente!», «Não percebi bem! Diz mais alto!», «Ouça, não quer antes um chá?», «Ai, robot, ai! Se soubesses o que é a minha vida!». E é de facto uma vida penosa, sem que se possa dizer no entanto, especialmente o robot, que ele aqui não tem um momento de exagero.
Enfim, há que perceber a mentalidade muito particular deste tipo de operacionais, não é assim? O círculo fechado em que se trabalha, o sentido do dever, a impossibilidade de falar do que se faz, de dizer coisas cá para fora. A impossibilidade, repare-se, a impossibilidade! De dizer coisas cá para fora! Muito sigilo, por ali. Muito sentido do dever. Entretanto chegam mais dossiers.
Um agente detecta algo de suspeito, finalmente: um colega chama «maluca» a outro; logo depois desculpa-se, e ambos dizem «meu filho, teu afilhado; agora vamos espiar o colega do lado!». Ora esse agente de que falam é o que estava precisamente a detectar a situação já desde o início numa secretária contígua, apesar dos headphones e do dedo médio em riste bem à vista, para mostrar desdém. Ou antes, para dele fazer crer mais ainda os outros, como disfarce, e aproveitar isso sim para detectar algo suspeito, como dissemos. Detectar e reportar. Através de mail, em tempo real. A um jornal, empresa, empresa detentora de jornais, a uma dona de casa, ou outra coisa, enfim, a um destinatário com relevância e de suficientemente segurança e descrição para receber informações dos serviços secretos da nação.
É então que uma das «comadres» da secretária do lado lhe pede pioneses, aproveitando o momento de distracção para passar os olhos pelo endereço de correio electrónico, no ecrã aberto. Mas o nosso agente previra o golpe e segue discretamente o destino do papel com o endereço, de mão em mão, de maneira que quando noutro sector se fica a saber quem era o destinatário do mail, logo elementos feitos com ele obtêm à socapa uma cópia da lista dos contactos do referido destinatário, fornecida por uma empresa de telecomunicações cujo grupo detém um diário, para dar a conhecer a um jornalista de outro jornal, a isto reage o grupo dos da secretária adjacente à do nosso agente procurando protestar junto das chefias quanto a tudo isto, mas as que não se queixavam de mal-estar tinham tinham-se ausentado permanentemente para uma empresa, ou grupo, de comunicações ou telecomunicações, ou donas de casa, até.
Este sistema permite a qualquer serviço secreto encontrar sempre quem dê o devido valor às suas informações, que tão árduo trabalho requerem, e, a qualquer jornal, obter notícias sobre coisas sérias e graves, pois que nem sempre elas se encontram à mão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lembram-se do Tó Zé? Aquele rapaz que desaparecia sempre a meio da brincadeira lá atrás, o palerma. Ou seria Frederico Pimentel? Bom, era o palerma, aquele gordo. Agora é gerente de um banco.
A mãe até já nem se lembra do número da polícia. Portanto está resolvido, é o que interessa. Vamos ao próximo. Agora o que está a dar é tentar saber onde andará o Khaddafi. Lá atrás não está. De certeza que procuraram bem na tenda? Que chatice esta, assim de repente. E lá para os lados da incomensurável mente dele, já viram? É que às vezes perde-se por lá.
Mas é uma pena, se aquele homem desaparece. Não se vê quem possa como ele ocupar o palco mundial no papel de vilão. Pode parecer-nos assim qualquer coisa estranha e do outro mundo, aqui em Portugal, terra onde todas as pessoas são boas por natureza; mas a verdade é que qualquer palerma pode ser um cabrão. Isso é banal, o mundo é assim mesmo.
Não é pois a cabronice que se admira em Khaddafi. É o requinte, a densidade e a complexidade da personagem, as excentricidades, as violações cruéis dos direitos humanos… enfim, com tudo isto, numa pessoa assim, lá se fechava um pouco os olhos às negociatas com o petróleo em que gostava de se envolver. Como quem, pronto vá, não gostamos muito dessa tua faceta, mas para falar do resto estamos cheios de vontade de nos encontrarmos contigo na tenda.
Bem, e não era para menos. Havia a própria história da tenda, a correr o mundo; a enfermeira ucraniana, o oposto de um babuíno massagista, em simbologia gangster; o corpo de guarda-costas feminino, obra-prima ambulante do bacoco conceptual de quem simples mas genialmente gosta das costas, corpos femininos e guardas; as fardas militares Galliano; gravações de vídeo-sermões à chuva, estética MTV anos 80; e tanta coisa mais. E depois, a coroar tudo, uma pitadinha de maldade. Perfeito.
Ou até mais do que isso. É que nem há palavras nem metáforas para falar adequadamente deste gajo! Só isto: mas haverá alguma coisa da vida deste gajo que não tenha sido criada para fazer pouco da (falta de) imaginação de quem inventou as excentricidades, e as torpezas, dos vilões dos filmes do James Bond?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os líbios são bons, mas muito rebeldes são os da Madeira. Porquê? Não sabemos. Talvez por causa dos anos passados na caça à baleia (cachalote). Ou aos fundos comunitários! E empréstimos à maluca, para obras à João Jardim (cachalote)! Não é bem rebeldes, é altivas; não é bem baleias, é mais tipo morsa, como a morsa Alberto e a morsa Joe, que eles querem pôr, ou deviam, lá num aquário para turistas, até aos 12 anos é grátis, mas os preços das coisas lá dentro são puxados, porque a mesma Comunidade que dá os fundos acabou com a pesca e a caça e outros costumes e tem que se fazer pela vida.
Pronto, o que procuramos é um adjectivo que dê simultaneamente para as pessoas em geral da Madeira, altivas, briosas, dignas, ilustres; e para algumas em particular, altivas, mau feitio, papada, dentes longos e afiados, cheiro a peixe (cachalote), quais morsas.
Por exemplo o Cristiano Ronaldo, o jogador, também é da Madeira. Só para a gente ter uma ideia de como as coisas não são necessariamente o que parecem. Mas adolescente rebelde mesmo (cachalote) é o Alberto João. Porque é mimado, recebe boas mesadas, só pensa na figura que pode fazer com elas sem querer saber de responsabilidades, quando se lhe acaba o saldo, e até já se endividou, vem logo com a chantagem, com a ameaça de que abandona a casa e a família se não lhe derem para umas jantes novas para o Audi 80, e se não lhe assumirem as dívidas, já agora. Ou então, admite ficar com a condição de lhe ser dada mais «autonomia» (mas se ele é já o gajo com mais autonomia em Portugal! diz e faz o que bem quer e lhe apetece! é ou não? porra!).
Também verdade que tem tido pais complicados, caprichosos, pouco exemplares e rigorosos na sua própria conduta, lá isso (cachalote)! Como foram os casos do Engenheiro, daquele do Sócrates, do Pinto de Sousa, do Zézito, para não falar do Coveiro e do Deixa-te-Lá-Estar; e de outros, que o AJJ já se fez adoptar por muita gente (cachalote). Para compensar, ou para piorar, a mãe Cavaco tem sido estranhamente compreensiva e afectuosa.
E é assim que pelo menos no caso do Alberto João já percebemos um pouco melhor a causa da sua rebeldia. É que ele é justamente (para não dizer injustamente) um rebelde com causas: a sua.
(Aqui está ele, adolescente, rebelde, morsa, missangas, shot, papada.)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um terço dos deputados [argg] da anterior legislatura, dizem os jornais, tinha assento em empresas do estado [uuhg]. Isso é horrível. Mas um terço, como? Um bocado de cada um, como uma fatia única, ou vários bocados de cada um, no total de um terço de todos e cada um? Que coisa horrível pode ser matemática, quando deixa a singeleza dos números inteiros.
De uma forma ou de outra, parece que estão incluídos os pés, para gerir as empresas, e o traseiro, para ter onde meter as notas e os cheques, depois de arrumados na carteira, para além de permitir precisamente com ele «assentar» como deve ser (nalgum sítio haviam de o poder fazer); e ainda para nele levar um forte incentivo à saída quando muda a gerência, por falar em pés.
Os dois terços restantes do corpo legislativo são mais do que suficientes para aprovar todas as leis, incluindo as constitucionais. Pode ser um pouco desagradável [argg, uugh, vómitos, desmaios] ver assim espalhados em desarranjo importantes órgãos de soberania, coração para um lado, escondido debaixo de uma cadeira por exemplo, cabeça para o outro, ainda a dizer muito bem ou uh; mas nada neste quadro de horror, aliás de belo efeito literário, e aliás não mais do que isso, se aproxima da hedionda realidade.
Nem precisaríamos de falar das questões que se levantam ao nível de conflitos interesses, de que fala a notícia; nem das questões relacionadas com o facto de que quase metade dos deputados que constituem a comissão parlamentar de Obras Públicas sejam simultaneamente administradores de empresas de obras públicas (elas estão sempre a acontecer, as consequências, ou como é tão normal colocar por exemplo um cão a guardar uma salsicharia e dar-lhe a chave, ainda com uma agravante: no caso do cão, podemos sempre contar com um providencial equilíbrio entre o seu sentido ético e os seus atributos e capacidades).
Comecemos por falar disto: então mas os deputados é sempre do género ah e não sei quê, mas nós trabalhamos muito, não é só o estar, ou o não estar, vá, nas bancadas parlamentares; trabalhamos que nem galegos, só que não se vê. Comissões, reuniões, deslocações, representações. É triste, mas agora corre-se bem o risco, depois de se saber destas ligações às empresas, de se pensar nessas palavras de outra maneira: comissões(!), reuniões, deslocações, representações… Mas talvez seja só o pessoal a falar, ignorante e mal-intencionado como é. Não estávamos a falar de nós, que somos simplesmente estúpidos; a tal ponto que as nossas dúvidas estão naquele outro ponto: se os deputados se dedicam ao seu trabalho na Assembleia, de verdade, e poucas vezes «assentam» noutras paragens, que falta fazem, que resultado útil produzem nas tais empresas? Mas se, pelo contrário, o seu contributo é importante para as empresas, fruto da grande dedicação que lhes reservam, que falta fazem na Assembleia?
Sinceramente não percebemos, mas também já estamos habituados à nossa estupidez, oxalá ela se confirme novamente nesta história.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Temos estado moodys e calados (lol) aqui n’EL Mesmo, porque só agora nos veio este trocadilho, bem lol, para começar a dizer uma parvoíce qualquer. Mas ainda vamos a tempo de confirmar com outra lolice que o timing do downgrading do rating da República, para não falar da arrogância à mother father king, dos gajos, veio um pouco a despropósito. (chorandol, da manhã que perdemos para escrever isto!)
O Governo também tem mais ou menos cumprido a promessa de estar calado quanto à situação que encontrou, só que nós queremos acreditar que isso é sinal de que afinal está tudo bem. Nada de mau há a dizer, às tantas.
Né?
Porque: eles são políticos, não iriam cá cumprir promessas! São uns grandes mentirosos. Porque: são uns completos aldrabões. À primeira oportunidade, iriam culpar os outros até à última.
A palavra político, no dicionário, até sugere logo os sinónimos trafulhas, esses bandidos, pá! (é assim, pá, e outras coisas). Claro que há excepções: o Sócrates. Dele é não se pode dizer o que acabámos de dizer, com a mesma ideia ou pretensão de ironia. Perde a graça e até vem logo aquela raiva. Mas o novo Governo, enfim, “vai-se aguentando”. Agora lá arranjaram um diz que disse mas não disse, sobre um desvio das contas colossal ou algo assim, assacado, ups, ao anterior governo, aparentemente para justificar algo como um imposto extraordinário que, ups, até vem contradizer certas ideias. Como a ideia que Pedro P. Coelho quis transmitir quanto à não subida de impostos, durante a campanha; e a ideia nossa de que está tudo bem (bem, quer dizer – no contexto do horror que já se conhecia; pois agora sabemos que estamos muito pior, em termos de horrível!).
A execução orçamental sofreu pois um desvio: dez milhões, de portugueses, serão agora executados. Estamos a falar neste tipo de números, já. Porque em euros chega-se também para os vinte ou trinta. Milhões. De euros!
Cem, aliás, milhões! Parece que é isso. Ou por outra, afinal não, confirmámos agora que são mas é mil milhões. Ou dois mil milhões, é assim uma coisa, ou o que é. Tudo em euros. De buraco, ou desvio, ou avenida, para a execução.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Todos os Governos aumentam um bocadinho os impostos mal assentam o rabo nas poltronas, nós sabemos, é até uma bela tradição no que (pouco) respeita aos rabos em Portugal, pelo que mantemos um amor incondicional ao Governo novo. Os portugueses não poderem comprar presentes de Natal para os miúdos, o que é que tem? Choram um bocadinho e depois calam-se, mais nada (de preferência longe dos olhares dos filhos, para ser um pouco menos difícil para todos). Aliás, o dinheiro vai para aqueles pobres miúdos do Governo, como o rapaz do CDS que nem carta tem ainda, bem mais precisados do que a generalidade dos meninos.
Além disso, logo houve quem viesse dizer que a quantia não chegava para nada, se o Governo pensava que ia muito longe, nesse projecto de salvar Portugal, ou lá o que é, também já se tramou, não sei quê. (Só para não se ficar para lá a rir.)
Claro que parece não bater muito bem, o aumento destes impostos, com o que se foi passando na campanha dos partidos vencedores; mas isso faz parte da cartilha Postura dos Políticos de Agora e Sempre – ELEIÇÕES E IMPOSTOS (também conhecida pelo nome abreviado de IMPOSTURA). Aparentemente respeitando a tradição, o novo primeiro-ministro começou logo por impor impostos, assim, de impostor. Basicamente, aparentemente. Verdadeiramente se o foi mesmo ou não é que é mais difícil saber.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que se pode dizer do governo, além de que é um amor, em termos de conclusão geral final


Claro que também nós estamos apaixonados por Pedro P. Coelho, só de vê-lo adoecemos, esplêndido. Mas é um indivíduo que tem a mania que diz demasiadas verdades. O outro, se a tinha, não parecia. Era mais modesto: apenas tinha a mania de que podia mentir à vontade, sem nunca ser responsabilizado. E isso é uma coisa mais realista para Portugal. Bem visto, outro.
Agora a gente está cá para ver até onde dura a fanfarronice deste, que é como quem diz, para ver até que ponto o país aguenta a verdade. A verdade, sim, alegadamente. E há limites para ela.
Para já, podemos de parvoíces, ou coisas que parecem parecidas, que é obviamente a melhor maneira de se fazer do período histórico correspondente à governação de Pedro P. Coelho uma análise total e definitiva.

Caso Fernando Nobre – o Fernando é uma pessoa que nos merece a máxima consideração, não o conhecendo pessoalmente temos muita estima, não sei quê, por ele, mas, fó, man, há que tempos desejávamos ardentemente que levasse uma valente paulada na mona. Desde que, felizmente, não levou um tiro na cabeça. Foi desde essa altura, sobretudo, que o desejávamos. Desta vez só ameaçou dêem-me a eleição, que sem eleição à cabeça… eu vou para Santarém! guardar gado e vê-lo pastar, enquanto como uns pastéis, também! E os deputados (pff, políticos!, terão pensado) – está bem! (Mas ele não deixou o parlamento; lá está, políticos, pff!) Foi tão forte a paulada que até o Pedro Passos apanhou, e bem, que muita culpa teve no caso. E daqui se passou ao caso seguinte.

Caso Assunção Esteves – sem melodramas Venezuela Televisión, sem tiros na cabeça, foi ver subir a senhora até à cadeira de Presidente, tranquila e segura, como se nada fosse fazê-lo daquela maneira – numa nuvem de bolhinhas de sabão sopradas por anjos!
(A parvoíce aqui está mesmo em não ter feito esta escolha logo à partida.)

Caso superministros – por este andar ainda se convence os portugueses que meia dúzia até chegava: o Miguel Relvas já se sabe que podia ficar de fora e fazer tudo na sede do PSD com uma câmera e dois ou três microfones à frente; a Justiça pede Saúde e vice-versa, ou mesmo a Administração Interna (ministério cujo nome, aliás, é uma contradição nos termos); a Tropa devia estar em força na Escola; os Negócios Estrangeiros juntavam-se, no preenchimento dos papéis para o rendimento mínimo da Troika, à Segurança Social; a Agricultura agregava a Cultura, para pôr em ordem o problema da falta de tomates e excesso de nabos nesses campos tão mal amanhado. E o Primeiro-Ministro ficava formalmente sob a alçada da Troika.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O que os portugueses (e os finlandeses) precisam de saber sobre Portugal

Houve uns finlandeses que fizeram na internet um jogo em que os portugueses são retratados como gastadores irresponsáveis. Mesmo a gozar. Nesse caso, ó fazedores de jogos, façam-nos um favor a vocês, se é que é possível, e não se metam connosco - metam antes um bloco de gelo finlandês no cu, agora que é Verão. E ele está derretido, e portanto não vale a pena. Pronto. Vêem? Até somos parceiros, mas, lá no fundo, ou lá onde quiserem, não temos que vos dar satisfações. Ok? Já responder com algo absolutamente letal e mortífero, porque não? Querem? Pode ser outro vídeo explicando-vos tudo o que vocês deveriam saber sobre nós? Já fizemos um. É mortífero. Pelo menos para nós, de tanta vergonha.
Sim, fez-se para aí um vídeo para ensinar umas coisinhas aos finlandeses. Tipo: que mesmo ANTES, repare-se só, de os finlandeses adoptarem a cruz azul para a sua bandeira, hã, já nós a tínhamos nós na nossa bandeira; e também que, num jogo entre o Benfica e uma equipa parisiense EM PARIS, havia mais adeptos portugueses que franceses, imagine-se. Que feras somos, uau, e não sei quê. E outras coisas muito lindas. O vídeo foi feito quando na Finlândia houve um debate sobre a contribuição daquele país para a resolução dos problemas financeiros de países como o nosso. E qual é que era, no fundo, a mensagem dele? Qualquer coisa como: terão vocês, seus finlandeses, depois de terem ficado a saber da desmedida excelência do nosso país, e na vossa ignorante insignificância, ainda a lata, sim, terão vocês ainda a lata de não querer aproveitar uma oportunidade única como esta para dar cá aos maiores uma esmolinha? Hã, vacõezões?
Para que o vídeo ficasse ainda mais azeiteiro, se isso é possível, só faltou que que a única coisa com classe que lá aparece - aquela voz em inglês - fizesse uma pergunta deste tipo. Claro que, tratando-se o destinatário de uma malta habituada a temperar as batatas com banha de foca, enviar um galheteiro a transbordar de virgem extra pode parecer boa ideia. Mas corre-se o risco de receber uma retribuição em espécie, mas com o mesmo azeite, já rançoso, como se viu no vídeo de resposta. Ou até de sermos presenteados com qualquer coisa mais difícil de engolir, provavelmente ensopada em óleo de fígado de bacalhau, como é o caso do jogo - uma espécie de metáfora para a medicina amarga e de efeitos duvidosos da troika. Entretanto o jogo foi retirado. Muito bem. Agora, e isso é que era, era: da nossa parte, fazermos um vídeo, chamado «O que os portugueses precisam de saber sobre Portugal», que mostre muito bem como foi, concretamente, que um país extraordinário, com cruz azul na bandeira, via verde nas auto-estradas, e tudo, deixou chegar as contas cair deste modo no vermelho; da parte deles, aprender os benefícios do azeite no arenque com batatas e grelos. E depois então, pensar em fazer jogos como deve ser. A gozar connosco. É que merecemos.
(Bom, na verdade merecemos um pouco; mas não está certo.)

Sobre o jogo.
O vídeo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Toda a gente sabe que há países mais importantes que outros, no mundo. A Espanha não vale nada, ou lá o que é. A Nova Zelândia não chateia ninguém. E não só, há mais. Para dizer portanto que não nos devemos espantar com o facto de o nome de certos países, como é evidentemente o caso aqui do Portugal, surgir de repente na boca de um importante candidato republicano à Casa Branca na América, e outros não. Foi o Tim Pawlenty que puxou pelo nosso nome, a meio de um debate. E só com isso já quase ganhou. O pessoal ficou tipo wow! Ele disse que os Estados Unidos não se deveriam ver como «um entre iguais em todo o mundo» porque os Estados Unidos «não são o mesmo que Portugal, não são o mesmo que a Argentina». Ele queria dizer que os Estados Unidos eram tão bons, tão bons, que até mesmo PORTUGAL, esse inacreditavelmente excelente país, não se lhe podia comparar! Está aqui! E queremos acreditar que, enfim… que, enfim. Que pelo menos é. Mais ou menos bom. Falarem em. Nós.
Sim, é isso, raios partó homem! (Mesmo.) Qual é que acham que era o país de que os americanos se serviam antigamente quando se queriam referir a um país europeu insignificante sobre o qual ninguém sabia nada de nada além do nome? Era a Bélgica.
E só nesses momentos os belgas sentiam que existiam no mundo. Agora os americanos deixaram de falar deles e - a Bélgica, ai a Bélgica - vamos ver. Ai, a Bélgica. Entretanto não interessa, porque nós já fomos promovidos a Bélgica.
Queria um Burkina Faso, morria um Laos pelo luxo de poder servir de referência digerível pela mente de hambúrguer do americano médio, mas não, nada. Nós, yes, é que sim. Nós e a Argentina. Dupla vitória para Portugal! No contexto da chamada guerra das civilizações entre ibero-americanos e anglo-americanos, para ilustrar bem o lado opositor, foi-se, como é óbvio, por quem conta. E, assim, bem se compreende a referência a Portugal, quem se lembraria da parva da Espanha, e à Argentina, qual Brasil qual quê, tontinhos alegria e alto astral, está bem, e não sei quê.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Competente, forte, estável, coeso, discreto, corajoso, reformista, rápido, moderado, pequeno, é assim que o novo governo diz que vai ser, pronto, dizemos nós que vai ser, ainda bem, vem a calhar, que bom, dá jeito, óptimo, maravilha, estamos contigo, bem hajas, bem visto, bem-vindo, porque chegámos a pensar que fosse incompetente, fraco, instável, desunido, histérico, medroso, complacente, espaventoso, lento, grande.
Ora ufa.
(Só que não foi muito moderado, nem pequeno, em auto-elogios, dirão alguns; mas talvez não seja assim, desde que, e oxalá, seja o tal do competente).
Os ministros serão poucos. Ou nenhuns, se Passos Coelho acabar por nos convencer de que quantos menos, realmente, e agora que falas nisso, melhor. E também porque parece que quase ninguém quer aceitar! Sim, apesar de tanta descrição, já todos os jornais sabem ou inventam ministros que são e eram para ser. E diz (lá mais para baixo) que muitos bons nomes se têm recusado, por causa da situação em geral do país; e também por causa dos baixos vencimentos. Mas acontece que é precisamente por causa da situação em geral do país que era importante haver bons nomes! E que, se calhar, foi por não haver na mesma bons nomes, a governar, já antes, quando a situação não era tão em geral má, portanto tivessem havido, bolas, que agora a situação em geral é assim. Quanto aos vencimentos, dá ideia que dizem mais ou menos às pessoas: se os ordenados fossem melhores, talvez os contributos fossem outros; e as pessoas vá que respondam mais ou menos : os ordenados talvez fossem outros, se os contributos fossem melhores.
De ministros, entretanto saberemos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A direita concretiza finalmente o seu sonho: um Sócrates humilhado, um governo, uma maioria e um Presidente. E uma troika. Qual cereja. Melhor ainda que qualquer sonho de Sá Carneiro. Mas a direita não vai em maluqueiras nem em festejos, Passos Coelho nem saltou, no autocarro, na noite da vitória, com os militantes à volta, e salta Passos, e salta Passos, olé, olé, e os mercados a espreitar, dizia aquele tremelicar das pálpebras. Tocaram duas vezes o hino nacional, lá no PSD, mas apenas porque por estes dias ajuda muito a chegar à tristeza e às lágrimas. Paulo Portas já mandou engomar os fatos Contenção&Recato às riscas e arrumar os chapéus Feira&Campanha. A esquerda. Quanto ao Bloco, parece que efectivamente se fez a tão reclamada JUSTIÇA. E alguma mais se vai fazer, talvez. A CDU está melhor do que nunca, mais uma vez. O PS, é um partido muito importante.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Infelizmente a campanha eleitoral está a chegar ao fim em Portugal, lembrámo-nos de escrever, claro que isto é uma ironia, claro que o que nós na verdade pensamos é o exacto oposto, ou seja, felizmente Portugal está a chegar ao fim em campanha eleitoral. Imaginemos que chegávamos ao nosso fim durante um período eleitoralmente desacampanhado, onde buscaríamos o elemento ridículo-ridículo tão necessário à desresponsabilização colectiva? Em José Sócrates? Sim, como se ele fosse capaz de prometer a pés juntos que não exigiria mais sacrifícios do que os já anunciados aos portugueses caso não estivesse, como está, completamente bêbado! E um Passos Coelho sóbrio diria que Santana Lopes «talvez, talvez» volte? Não. É a campanha que os alcooliza (e no entanto nós é que quase sempre vomitamos, hihi, é o bafo, o bafo).
É uma bebedeira triste, apesar de tudo, e ao contrário do que é costume com as boas bebedeiras (talvez porque sobretudo, aiai, nos chega o bafo), mas para entorpecer um bocadinho a noção da realidade que atravessamos sempre serve – por isso, siga a campanha.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Passos Coelho tem aproveitado bem as Novas Oportunidades, todas as que surgem, de não estar calado. Agora quer dar ao tema do referendo sobre o aborto uma Nova Oportunidade, como se ele não tivesse a escola toda. O aborto foi já exaustivamente discutido durante décadas, especialmente entre meados dos anos 90 e 2007, foi referendado nesse ano, consequentemente legalizado, em 2009, ainda assim o governo PS foi reeleito, mantendo vivo o debate sobre vantagens e desvantagens de abortar certas coisas, quer dizer! Estamos em 2011! Passou tão pouco tempo!
Ok, ok, por princípio não deve haver temas tabu na discussão democrática, mas também não deve haver temas-tipo-antónimo-de-tabu, isto é, tão-politiqueiramente-obrigatórios-que-até-já-metem-nojú.
E ok, ok, quase parece que as barrigas das portuguesas ainda são das poucas coisas sobre as quais se pode exercer alguma soberania nacional, através da vontade das donas. Mas será realmente oportuno, neste momento de troikas, de decisões difíceis para o futuro e de outras coisas etc. estar, a pensar (e fazer-nos pensar) em possíveis decisões a tomar relativamente a esta matéria?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mas ninguém ataca o futuro, só o PSD?


Atacar o futuro no sentido de apontar baterias ao que é preciso fazer, só o PSD no sentido de que nada mais é atacado. Ninguém fala do que se vai fazer (e do que se fez, então…) a gente parece que é suposta é escolher quem é que melhor dá porrada no PSD. Para já, o PSD vai à frente, mas por quanto tempo mais? O CDS está já a ficar muito bom a molestar sociais-democratas, Sócrates é completamente PSDófilo, o BE e o PC também apreciam espremer a laranja.
Então é assim:
- PSD, essa táctica de bateres em ti como um maluco para não sobrar para os outros nada por onde pegar não está a resultar; tens mais corpo para apanhar do que julgas;
- outros: há mais vida para além do PSD;
- todos: digam qualquer coisa de Portugal;

Em vez do PSD, vamos atacar o futuro.

domingo, 22 de maio de 2011

Esperava-se que no debate de sexta-feira entre primeiro-ministro e líder da oposição viesse animal feroz devorar um pobre coelhinho, que jorrasse sangue, e outras coisas etc., isto da parte dos especialistas, como nós, e afinal o que se viu foi uma espécie de bicho peçonhento ser encurralado com passos de grande confiança, jorrou a luz da verdade, nada de sangue, ok, algum sangue, e tal. Enfim, muito exageramos nós, especialistas, ou meros politólogos, que os há também para aí, nas metáforas e nas análises. Nas anteriores e nas posteriores. Deveríamos deixar o sensacionalismo e sermos mais comedidos na abordagem a estes assuntos, como fazem os jornalistas. Foi só um debate. Em que por acaso um anjo salvador reacendeu alguma esperança de deter o monstro de sete cabeças. Que ameaçava cobrir para sempre de trevas o abismo que abriu. Só isso.
Seja como for, depois da pré-campanha e dos debates eleitorais, sabemos finalmente em quem votar (num qualquer, no fundo é isso; mas de maneira a preservar o Sócrates noite e dia do lado de fora dos edifícios do governo). Ora bem, o PS diz-se mais estado social, e bem, a julgar pelo que se tem visto: inaugurações, anúncios, recepções de copo de Martini à mão, o Sócrates bem vestido, militantes socialites e pessoas bem à frente de eventos e instituições de beneficência (própria). Muito social. E, sem dúvida, não pouco estado. O PSD tem ideias concretas, apresentadas num belo programa. Muitas ideias, aliás, em muitos programas: enfim, ideias diferentes a cada programa, a cada entrevista, a cada resposta, parece que era mais isso, ou o catroga. O CDS é competente, coerente, responsável, ponderado e realista. Quem o diz são os seus dirigentes máximos. Poderíamos suspeitar de algum exagero, se se tratasse de outro partido, mas não tratando-se deste: precisamente porque, como se deixa logo bem claro para não haver dúvidas, este partido é tudo menos incompetente, incoerente, irresponsável, imponderado ou irrealista, pelo que não poderia agora passar uma mensagem que fosse em sentido contrário. O PCP assume-se, desta vez, como a voz dos trabalhadores. Infelizmente para os comunistas, nós, como a maioria dos portugueses, nunca votaremos neles: o nosso partido ideal é mais o que defende os interesses dos preguiçosos. O BE, enfim, é pena exalar por vezes alguma superioridade moral desnecessária, porque tem excelentes ideias, pelo menos para um universo onde a metafísica substitui a física.