Esperava-se que no debate de sexta-feira entre primeiro-ministro e líder da oposição viesse animal feroz devorar um pobre coelhinho, que jorrasse sangue, e outras coisas etc., isto da parte dos especialistas, como nós, e afinal o que se viu foi uma espécie de bicho peçonhento ser encurralado com passos de grande confiança, jorrou a luz da verdade, nada de sangue, ok, algum sangue, e tal. Enfim, muito exageramos nós, especialistas, ou meros politólogos, que os há também para aí, nas metáforas e nas análises. Nas anteriores e nas posteriores. Deveríamos deixar o sensacionalismo e sermos mais comedidos na abordagem a estes assuntos, como fazem os jornalistas. Foi só um debate. Em que por acaso um anjo salvador reacendeu alguma esperança de deter o monstro de sete cabeças. Que ameaçava cobrir para sempre de trevas o abismo que abriu. Só isso.
Seja como for, depois da pré-campanha e dos debates eleitorais, sabemos finalmente em quem votar (num qualquer, no fundo é isso; mas de maneira a preservar o Sócrates noite e dia do lado de fora dos edifícios do governo). Ora bem, o PS diz-se mais estado social, e bem, a julgar pelo que se tem visto: inaugurações, anúncios, recepções de copo de Martini à mão, o Sócrates bem vestido, militantes socialites e pessoas bem à frente de eventos e instituições de beneficência (própria). Muito social. E, sem dúvida, não pouco estado. O PSD tem ideias concretas, apresentadas num belo programa. Muitas ideias, aliás, em muitos programas: enfim, ideias diferentes a cada programa, a cada entrevista, a cada resposta, parece que era mais isso, ou o catroga. O CDS é competente, coerente, responsável, ponderado e realista. Quem o diz são os seus dirigentes máximos. Poderíamos suspeitar de algum exagero, se se tratasse de outro partido, mas não tratando-se deste: precisamente porque, como se deixa logo bem claro para não haver dúvidas, este partido é tudo menos incompetente, incoerente, irresponsável, imponderado ou irrealista, pelo que não poderia agora passar uma mensagem que fosse em sentido contrário. O PCP assume-se, desta vez, como a voz dos trabalhadores. Infelizmente para os comunistas, nós, como a maioria dos portugueses, nunca votaremos neles: o nosso partido ideal é mais o que defende os interesses dos preguiçosos. O BE, enfim, é pena exalar por vezes alguma superioridade moral desnecessária, porque tem excelentes ideias, pelo menos para um universo onde a metafísica substitui a física.
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