terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vai-se falar: do Egipto

Nós não somos egiptólogos, mas já percebemos que é perigoso ligar pessoas com fome à internet (e nos portáteis mais vale que a energia da bateria morra completamente, para não haver manifestações indesejáveis). Aliás, isso é dos manuais. O governo egípcio devia sabê-lo, é incrível como não seguiu as instruções dos fabricantes, que foram Deus, no caso das pessoas, e uma entidade desconhecida (propomos a designação ‘Fred’) no caso da Internet.
Nós que, apesar de tudo, ainda somos meio mouros, da parte do D. Duarte de Bragança, pelo menos do Mondego para baixo, deveríamos pensar nisso. Já está: o nosso Grão-Vizir Sócrates é que anda para aí com isso das tecnologias, mas isto somos só nós a pensar alto, não estamos a dizer nada. Literalmente. Portanto, pormenores à parte, agora é combinar tudo no facebook e ir para a rua gritar assim: Fora, Sócrates, vai lá para a para a Arábia Saudita (e qualquer coisa num cartaz em inglês, e pronto).
Entretanto, o ainda presidente Mubarak veio dizer: “não tenho intenção de me apresentar às próximas presidenciais”, transcreve o Expresso, “vão mas é chamar Egito à vossa avó, ou gostavam que chamassem Exresso ao vosso jornal? Demitiam-se imediatamente é o que era, eu ainda espero até Setembro”, terá acrescentado, mas essa parte só passou na Al Jazeera em árabe (como se o Ricardo Costa não percebesse a língua de Bin Laden com aquele bronzeado!). Para quem não sabia, aí está: o presidente Mubarak leva a ortografia muito a sério (naturalmente é um patife com todas as letras). Ainda bem para os egícios.
E mesmo os egípcios, com este anúncio, poderão ter, qualquer dia, oportunidade de escolher novo Presidente. Obviamente que o leque de candidatos incluirá um radical islâmico, um moderado islâmico, um islâmico não praticante (às vezes mistura vinho na 7up, mas usa bigode), um ateu islâmico e um que apenas se chama Mohamed; além disso, fala-se também da possibilidade de um candidato surpresa, que poderá inclusive ter a ver com o legado dos faraós, e que terá portanto mais ou menos a mesma idade de Mubarak (e igualmente um coração empedernido e ar impassível): uma pirâmide. Não tem nada de mais, afinal as pirâmides têm uma sólida base de apoio. E é ou não verdade que nós próprios temos uma esfinge na presidência? O Mário Soares é que diz.
Com tudo isto, e indo ao que verdadeiramente interessa à civilização, o que poderá o Ocidente esperar do novo regime? Uma onda terrível de fundamentalismo? Uma era de maravilhoso desenvolvimento político, social, espiritual e humano? Um impasse de meses ou anos assente em muita retórica inflamada, gente sempre em protesto e em concurso ocasional de arremesso de pedras da calçada à cabeça dos que são anti aquilo que quem arremessa é pró (levando Manuel José a deixar o Egipto , confessando a O Mesmo que se era para assistir a moiros a serem apedrejados tinha ficado como treinador do SLB)?
Quem sabe. Se afinal não teremos apenas mais um palco, mais ou menos estabilizado, de intermináveis debates sobre a compatibilidade entre a barba farfalhuda e a homossexualidade envergonhada; ou sobre a obrigatoriedade ou proibição (só uma das duas parece poder ser admissível) do véu islâmico nos espaços públicos, sobretudo fechados – tendo em conta que quem não usa pano não tem culpa e pode ainda assim ser contaminado\salvo (de apanhar uma constipação ou caspa no cabelo); e outras coisas semelhantes e igualmente importantes, como já vai acontecendo em diversos países muçulmanos, tais como a Turquia o Afeganistão e a França, entre outros.
Oxalá seja este último cenário o pior que pode acontecer ao Egipto.

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