terça-feira, 31 de maio de 2011

Infelizmente a campanha eleitoral está a chegar ao fim em Portugal, lembrámo-nos de escrever, claro que isto é uma ironia, claro que o que nós na verdade pensamos é o exacto oposto, ou seja, felizmente Portugal está a chegar ao fim em campanha eleitoral. Imaginemos que chegávamos ao nosso fim durante um período eleitoralmente desacampanhado, onde buscaríamos o elemento ridículo-ridículo tão necessário à desresponsabilização colectiva? Em José Sócrates? Sim, como se ele fosse capaz de prometer a pés juntos que não exigiria mais sacrifícios do que os já anunciados aos portugueses caso não estivesse, como está, completamente bêbado! E um Passos Coelho sóbrio diria que Santana Lopes «talvez, talvez» volte? Não. É a campanha que os alcooliza (e no entanto nós é que quase sempre vomitamos, hihi, é o bafo, o bafo).
É uma bebedeira triste, apesar de tudo, e ao contrário do que é costume com as boas bebedeiras (talvez porque sobretudo, aiai, nos chega o bafo), mas para entorpecer um bocadinho a noção da realidade que atravessamos sempre serve – por isso, siga a campanha.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Passos Coelho tem aproveitado bem as Novas Oportunidades, todas as que surgem, de não estar calado. Agora quer dar ao tema do referendo sobre o aborto uma Nova Oportunidade, como se ele não tivesse a escola toda. O aborto foi já exaustivamente discutido durante décadas, especialmente entre meados dos anos 90 e 2007, foi referendado nesse ano, consequentemente legalizado, em 2009, ainda assim o governo PS foi reeleito, mantendo vivo o debate sobre vantagens e desvantagens de abortar certas coisas, quer dizer! Estamos em 2011! Passou tão pouco tempo!
Ok, ok, por princípio não deve haver temas tabu na discussão democrática, mas também não deve haver temas-tipo-antónimo-de-tabu, isto é, tão-politiqueiramente-obrigatórios-que-até-já-metem-nojú.
E ok, ok, quase parece que as barrigas das portuguesas ainda são das poucas coisas sobre as quais se pode exercer alguma soberania nacional, através da vontade das donas. Mas será realmente oportuno, neste momento de troikas, de decisões difíceis para o futuro e de outras coisas etc. estar, a pensar (e fazer-nos pensar) em possíveis decisões a tomar relativamente a esta matéria?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mas ninguém ataca o futuro, só o PSD?


Atacar o futuro no sentido de apontar baterias ao que é preciso fazer, só o PSD no sentido de que nada mais é atacado. Ninguém fala do que se vai fazer (e do que se fez, então…) a gente parece que é suposta é escolher quem é que melhor dá porrada no PSD. Para já, o PSD vai à frente, mas por quanto tempo mais? O CDS está já a ficar muito bom a molestar sociais-democratas, Sócrates é completamente PSDófilo, o BE e o PC também apreciam espremer a laranja.
Então é assim:
- PSD, essa táctica de bateres em ti como um maluco para não sobrar para os outros nada por onde pegar não está a resultar; tens mais corpo para apanhar do que julgas;
- outros: há mais vida para além do PSD;
- todos: digam qualquer coisa de Portugal;

Em vez do PSD, vamos atacar o futuro.

domingo, 22 de maio de 2011

Esperava-se que no debate de sexta-feira entre primeiro-ministro e líder da oposição viesse animal feroz devorar um pobre coelhinho, que jorrasse sangue, e outras coisas etc., isto da parte dos especialistas, como nós, e afinal o que se viu foi uma espécie de bicho peçonhento ser encurralado com passos de grande confiança, jorrou a luz da verdade, nada de sangue, ok, algum sangue, e tal. Enfim, muito exageramos nós, especialistas, ou meros politólogos, que os há também para aí, nas metáforas e nas análises. Nas anteriores e nas posteriores. Deveríamos deixar o sensacionalismo e sermos mais comedidos na abordagem a estes assuntos, como fazem os jornalistas. Foi só um debate. Em que por acaso um anjo salvador reacendeu alguma esperança de deter o monstro de sete cabeças. Que ameaçava cobrir para sempre de trevas o abismo que abriu. Só isso.
Seja como for, depois da pré-campanha e dos debates eleitorais, sabemos finalmente em quem votar (num qualquer, no fundo é isso; mas de maneira a preservar o Sócrates noite e dia do lado de fora dos edifícios do governo). Ora bem, o PS diz-se mais estado social, e bem, a julgar pelo que se tem visto: inaugurações, anúncios, recepções de copo de Martini à mão, o Sócrates bem vestido, militantes socialites e pessoas bem à frente de eventos e instituições de beneficência (própria). Muito social. E, sem dúvida, não pouco estado. O PSD tem ideias concretas, apresentadas num belo programa. Muitas ideias, aliás, em muitos programas: enfim, ideias diferentes a cada programa, a cada entrevista, a cada resposta, parece que era mais isso, ou o catroga. O CDS é competente, coerente, responsável, ponderado e realista. Quem o diz são os seus dirigentes máximos. Poderíamos suspeitar de algum exagero, se se tratasse de outro partido, mas não tratando-se deste: precisamente porque, como se deixa logo bem claro para não haver dúvidas, este partido é tudo menos incompetente, incoerente, irresponsável, imponderado ou irrealista, pelo que não poderia agora passar uma mensagem que fosse em sentido contrário. O PCP assume-se, desta vez, como a voz dos trabalhadores. Infelizmente para os comunistas, nós, como a maioria dos portugueses, nunca votaremos neles: o nosso partido ideal é mais o que defende os interesses dos preguiçosos. O BE, enfim, é pena exalar por vezes alguma superioridade moral desnecessária, porque tem excelentes ideias, pelo menos para um universo onde a metafísica substitui a física.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Angela Merkel não sabe ser engenhosa, isto é, aldrabona. Tem muito a aprender com os políticos nacionais, isto é, engenhosos, se quer assim tanto governar-nos (coitada, por isso!). Falando claramente para os seus vassalos portugueses, que lá mandona é ela, mas isto somos nós a adivinhar, disse que devíamos ter menos férias e trabalhar até mais tarde, como na Alemanha. Sem espinhas, à alemã. Só que é mentira que os alemães se reformem mais tarde ou tenham menos férias. Ela falou rigorosamente de coisas concretas que podem concretamente verificar-se não serem nada rigorosas. Não é assim que se fala para portugueses, não é assim que se engana os portugueses. Nunca se deve fazer referência a factos cuja veracidade possa ser de imediato verificada; se necessário, fala-se só do que interessa e omite-se o resto, por muito importante que seja; pode dizer-se uma coisa agora, e outra depois, seguida de outra ainda, e assim sucessivamente. Depois os comentadores falam em inverdade, o povo em aldrabice, entretanto alguns políticos podem acusar os outros de efectivamente mentir, mas de qualquer maneira é conversa de inverdadeiros ou aldrabões, ninguém dá muita confiança, e ficamos todos felizes. E vens agora tu, Angela, não sei quê? Vai mentir para a tua terra, que com esse nome não enganas ninguém, e vê lá mas é se olhas para a gente. Para aprenderes, ah camano, como é que se governa bem!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma pessoa que de repente chegasse de viver toda a sua vida em Portugal olharia estes dias para os jornais e diria Mas o que é isto? Jornais. Ah. E aqui são as Gomas. Então era cinquenta cêntimos de gomas. Pois que o Passos Coelho desdobra-se em explicações detalhadas sobre tudo e mais alguma coisa (sobretudo sobre as próprias explicações) – é os jornais maçudos, que dizem coisas e coisas e ninguém liga; e o Sócrates é as gomas – uma espécie de borracha plastificada, enjoativa e viciante.
Passos preocupa-se demasiado em dizer o que pensa (e o resto do PSD também faz questão). Sócrates preocupa-se demasiado em pensar demasiado no que há-de dizer (e todo o PS o imita).
Um, isto. Outro, aquilo. Mas agora o que mete mesmo graça é só dizer mal do Sócrates. Até o Passos Coelho já se atira a ele. Diz o DN: « Passos Coelho insurgiu-se contra o que classificou como uma "campanha de medo" contra o PSD que tem sido organizada pelo PS, ao "mentir" sobre o que o seu partido de facto defende para a sociedade portuguesa.»
Bom, em defesa de Sócrates, pode sempre alegar-se que também mente quando fala sobre o que ele próprio se propõe fazer. Não há cá tratamento de desfavor para nenhum dos lados. Digamos que usa a mentira com magnanimidade. Com generosidade, se for preciso. (Psst, admitamos: já só um método da CIA, do Tempo da Guerra, para Detectar a Mentira, a que Tivemos Acesso, nos tem permitido perceber quando o Engenharias Impossíveis em Lata está a mentir: diz assim:
VOCÊ, QUE AGORA LÊ ESTE MÉTODO DA CIA PARA DETECTAR A MENTIRA, SABE COMO É QUE SE FAZ PARA SABER SE O ENGENHARIAS MENTE?
Não.
TEM QUE OLHAR MUITO BEM PARA OS LÁBIOS DELE.
Sim.
SE SE MEXEREM, ELE ESTÁ A MENTIR!
Ora.
AH, AH, AH,AI, AI, NÃO POSSO, AHAHAH AHA.
Estúpido.)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nós ontem perdemos. Passou cá por casa o Yurg mais o Sols e nós perdemos, à sueca. O Catroga diz que entretanto ganhou ao Gov, à troika. Mas o Gov é que diz que ganhou ao belo jogo da troika, ao Catroga. Ai como é que é, queres PEC, queres não sei quê, privatizar velhos, troika que é para aprenderes!
Ganhámos, festa , vai! Nós somos, pá. Ok? Vocês deviam era, ganhámos, man! Culpa? Vossa, vossa! A vitória é nossa. A culpa é vossa. Culpa? Culpa o quê? Vossa, vossa. Vitória? Nossa. Isto agora é assim: a culpa é vossa, a vitória é nossa. Não, não, escutem, esta merda agora é assim: (desgraçámos um tanto as pessoas não foi? fogg!). Vossa, vossa. Nossa. Não sei quê.
A culpa da nossa vitória é vossa.