quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não somos juristas mas sabemos bem quanto custa o equilíbrio do défice. E por isso cortaremos no ordenado do pessoal, já a partir deste mês: quem trabalha aqui n’O Mesmo irá receber apenas meia gratificação interior acompanhada de palmada amiga. Para aumentar a receita vamos escrever histórias eróticas com mulheres lindíssimas, (…) ela fazia descer lentamente o sari, et cetera. Depois tem mais, mas, oh, é muito excitante, talvez dê até também para cortar na despesa das canetas de feltro.
Já a nível nacional há coisas que estão a correr melhor: o estado recusou a entrada de dois mil funcionários desde Julho. Urra e toma. Ainda alcançamos a Espanha na estatística do desemprego e criem as vossas próprias empresas de apagar fogos se quiserem! Mas quem é que precisa de 2000 bombeiros no Verão? Aliás, duas mil. Pessoas daquelas que não percebem nada de incêndios nem de matas e que fazem ninguém sabe muito bem o quê na função pública. Agora histórias eróticas!
Portanto, vá. Se há mesmo que poupar, e se se trata de pessoal que não é absolutamente indispensável, pronta e solidariamente saudamos daqui a decisão do Ministério das Finanças. Quando a situação é de crise nacional, toda a gente tem de colaborar. E de facto até o próprio Governo parece querer fazer alguma coisa. Então quem é que vamos culpar e amaldiçoar nesta gesta que já meteu suspense, acção, canetas de feltro e romance, faltando apenas os bandidos? Pode ser os autarcas.
Já estão habituados a pagar coisas que competiria ao Estado Central, injustamente, podem agora pagar as favas por isto, justamente. Diz o jornal i que 1500 dos concursos abertos são da responsabilidade da administração local. Mas não nos preocupemos mais do que é recomendado, que o quinto parágrafo é assim:

«A redução do monstro "é possível" diz o economista Eduardo Catroga. "PS, PSD e CDS deviam discutir o Orçamento do Estado para 2011 antes do documento ser entregue na Assembleia da República para discussão final", afirma Catroga.»

O que é que claramente chama logo a atenção neste parágrafo? É de facto a inexistência de aspas na palavra «monstro» (ou de itálico: monstro). E a presença delas em «é possível», como quem não acredita (no abate do mosntro) e se ri por dentro. Isso é muito negativo. Já não bastava o monstro existir mesmo e ser oficial e sem aspas?
Sim, sim, “citação”!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Aconteceu-nos há pouco o primeiro constrangymentto à compreemsão de um texto por via da nova orthographia, ao lêr um artigo da «Visão» sobre uma seyta de orygem indiana adepta do sexo (e com música arrebatadora).
A nova orthographia constrange. Confirma-se o que não poucos anunciaram. E nisto de coisas indianas adeptas do sexo escriptas ao abrigo do novo acordo, emfim, nem se fala. A verdade é que queríamos perceber de que tratava o texto principal , uma vez que a nossa condição de conservadores reaccionários a um temppo nos causa repulsa e phascínio pellos novos rumos da língua portugueza e todas as discussões à volta delles. Bem como um ligeiro phascínio scientíphico pelo sexo indiano, que dizem ser de singular perenidade. E víamo-nos de todo sem perceber sequer se aceiptavam inscripções.
Muito menos entendíamos o fundamental das linhas conceptuaes da seyta, tão bizarra nos parecia a othographia. Jornalistas parece que não são especialmente bem-vindos. Para nossa sorte, no entanto, acabaram por aceiptar um (ou talvez o seu primo), que foi quem depois tentou escrever a crhónica ainda sob o efeito combinado da «Meditação para a Auto-Consciência, (AUM)», da «Simulação Orgíaca» e do caril. Ou talvez seja tudo efeito do acordo orthográphico. Se não, vejamos: temos o «SAR (Sistema de Ativação Retilínio)» – pela sonoridade das palavras parece um conceipto espectacular, mas o que é isso de «ativação»? O nosso diccionário não tem essa palavra. Falta certamente um “c”, pello que seria «Cativação» – ou seja «captura», como nós aprendemos na escola. Só não percebemos se o sistema está vocacionado para capturar «rectas» ou «répteis», pois que de facto o nosso primeiro grande constrangymento foi esse: «retilínio». Diz logo a seguir que é um «filtro mental fantástico» – talvez seja «rectas». No sentido de «linhas».
E assim percebe-se melhor que Atmananda, um indivíduo praticante, diga que a empresa onde trabalha lhe tenha dado «(…)um lugar na informática. Eu não sabia nada de informática, mas é como tudo: aprendese fazendo. E fui subindo." Até agora, que se vai despedir. Nos seus projetos para os próximos dois anos estão a criação de um espaço, franchisado, de depilação a laser(…)». Com esforço, mas perecebese. Ou que o Nuno (mas têm mesmo de usar estes nomes indianos?), que anda «numa busca», se tenha despedido da empresa depois de esta ter « (…) mandado em- bora várias pessoas [que não ele!] por causa da "crise"». Em-boa hora o fizeste. Parece-nos que já começamos a perceber estes estranhos e novos falares.
E a gostar. Vamos inclusivamente voltar àquella página com a música inspiradora e depois lêr mais algumas frases para praticar:

«Assim, o Kundalini abre com dezenas de rajneeshees [ pois, mas no nosso tempo escrevia-se rajneeshehes] a abanar o corpo na tenda grande (ou dome), uma espécie de aquecimento para a fase seguinte, a da dança, a que se seguirá a da meditação propriamente dita»;

«Mas quando a coisa começa a descer e o xamã chama os ícaros da planta... Wow! Que clareza, que awareness (autoconsciência)

«Que sensação." Mais tarde, Mónica F., uma bonita ex-controler financeira e designer gráfica, leu-me a aura descobri que tenho uma energia feminina muito forte, uma presença maligna, e que devia era ser músico e convidou-me, desinteressadamente, para uma destas sessões xamânicas. Custam 90 euros e são semiclandestinas para não dizer ilegais. Mas fazem furor entre os adeptos de Osho."Queres vir?", sorriu-me

«Ao nono estágio "a dança dos amantes", é distribuída uma venda a todos. A ideia é passarmos os próximos 20 minutos numa simulação orgíaca: agarramos um corpo, qualquer corpo, homem ou mulher, desde que ambos se sintam confortáveis, e dá-se um contacto semelhante ao que têm os amantes, antes do início do sexo. Confesso que nesta parte quando me vi agarrado entre um homem e uma mulher não consegui deixar de pensar: "Mas que raio estou eu a fazer aqui?"
P.S.: por favor, não contem isto à minha mãe


«O pai, conservador, achava que o destino de um homem era formarse, casar e ter filhos três, de preferência

Lemos e percebemos que há toda uma ausência de regras aqui. Muito interessante. Não deixaremos de tentar estudar o assumpto em maior profundidade, se a oporttunidade surgir. Ainda bem que não querem lá essa gente mesquinha dos jornais, que nós, ilustres moralistas hipócritas que sommos, também não apreciamos particularmente a exposição em folhetim dos nossos vícios mais exóticos, como o do yoga de frutos silvestres (isto para confessarmos apenas o mais belo e, sim, não menos infame).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De quem gosta Narciso? De Matosinhos, especialmente se estiver a Presidente da Câmara. E, nessa base mas a sair para fora dela, assumir outros cargos que nada têm a ver com Matosinhos? Miranda . Na entrevista (véspera de eleições autárquicas 2009), pode ser d’a gente, mas fica a ideia de que teria gostado de mais, depois de muitos anos de serviço ao PS. Não é a parte que não divulga mas que, no entanto, sugere (o clássico ‘não-divulga-não-divulga-mas’), talvez promovendo pelo caminho a sua extremíssima imaculabilidade em termos de conduta (talvez justamente) afirmando que não terá querido nada (convites, tachos…), talvez despromovendo um pouco a de Sócrates (não é possível avaliar objectivamente se justa ou injustamente – e ele é o PM, agora vai ficar a dúvida!, sempre quero ver como se sai daqui). É lá para o fim que nos vem tal ideia, quando responde: «Quem na vida política está à espera de gratidão falha. Na vida política os valores não existem. Fui três anos vereador pelo PS, 26 anos como presidente de câmara, fui secretário de Estado?». E ver-se como vereador, caso perdesse as eleições? «Sou candidato a presidente da câmara», responde. Gosta de Matosinhos, nós também não temos nada contra, mas Narciso é Narciso. Se não gostar de si, quem gostará?
De quem gosta Narciso? Do PS, especialmente quando nele vê reflectida uma boa imagem de si. A do autarca modelo, que pode ser candidato quando ele próprio não quer (certo, há mais vida; e o PS?, não sabemos), e é candidato - por outro ‘partido’ - quando já quer e o PS já não quer (certo; mas faz coçar a cabeça). Foi em 2009, pelo ‘partido’ Narciso Miranda Matosinhos Sempre.
Agora, espanta-se e revolta-se com um processo que pode levar à sua expulsão do PS. Ou talvez não leve, se acabar por não arranjar maneira de abrir as cartas que o partido lhe envia (um x-acto e facultar ao PS um endereço válido, ou, caso não se trate disso, agir com coerência e clareza, pode ajudar). Bravissimo, para quem diz ter argumentos (talvez atendíveis) para pôr em causa a validade da expulsão, do processo de scolha de candidatos em 2005 e do próprio governo Sócrates (neste caso, é mais o prazo de validade, e o argumento é, claro, Narciso - e se ele o diz...).
Não perecebemos muito bem é porque razão a sentença do processo de Manuel Alegre, que concorreu nas últimas presidenciais contra o candidato apoiado pelo PS, vai no sentido de apoiá-lo agora em 2011 (talvez pensem que proporcionar-lhe com uma valente derrota seja o que aquilo que mais o fará sofrer, bem visto); mas quanto ao resto, está quase tudo por aqui:
De quem gosta Narciso?
De quem gosta Narciso?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

É incrível o que as pessoas fazem naqueles vídeos caseiros para mostrar ao Mundo todo através da Internet. As pessoas, sempre elas. Essa subespécie de gente como nós está bem para a comida caseira, e apenas, porque o que sobressai, quando se trata de vídeos caseiros, é o pior que em tal gente há. Pfff, aquele ego desmesurado, de morrer horrores, à volta da vacuidade estupidificante daquelas coisinhas que têm para mostrar! São uma praga ruim que veio para ficar, mais uma, e agora nada mais resta à humanidade senão aprender a viver com ela (nós aqui n’ O Mesmo até já não passamos sem; mas fazemos pfff, como ninguém; assim: pfff).
Já não nos bastava o pessoal dos blogs? Não, e agora os vídeos deste sujeito comentador da SIC Notícias e da Sábado, para ali com ar manhoso, quase sinistro, de óculos escuros e tal. Não é um artola qualquer, ele estuda mesmo aquelas matérias. E aquilo é uma tartaruga em boneco? E por entre as brumas, a memória, e os Roxy Music e a salvação da pátria, etc. (está escrito por cima)? Mas, que pinho, que carvalho? Só sabemos que é um deleite, gesto a gesto, palavra por palavra (e a música e o genérico, e o gabinete mobilado e as poses, e a 'coerência' da 'narrativa', e os livros nas estantes), tão delicioso que até faz mal ao açúcar natural.
Por favor, clique aqui para visionar.
E assim se prova que, sim senhor, pode-se ler muitos livros e ouvir muito rock progressivo do Vietname todo em flauta de osso de andorinha, que isso não impede ninguém de fazer figurinhas tristes. Sabemos bem do que falamos, pois nós não ouvimos rock progressivo nenhum precisamente por causa disso e de ser muito à esquerda, em termos de mãos nos teclados dos sintetizadores.
Por favor, Nuno, continua a mostrar-nos como não ser um Hitchcock e perceber de mísseis ao mesmo tempo em estilo caseiro, que é um regalo para o espírito. Aqui fica mais uma maravilha, mas há lá muitas outras.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mais do que os políticos, que já não acreditam no povo e vão moderando as grandes tiradas e a euforia promessista (oh, povo bom e tolo, para onde te ausentaram teus passos, errante!?), os senhores da Justiça estão numa fase de portentosa confiança no falar: não sei quê, novos procedimentos, novos meios disponibilizados para resolução dos casos mais simples, e que se espera e tal que a taxa de ocorrência da chamada “pequena criminalidade” (ao menos essa, dizemos nós), a nível nacional, possa descer para níveis comparáveis aos das zonas mais seguras do país, blá-blá-blá. Pois sim. Talvez como em Fátima. Em dia de chuva. E de pouca gente, porque quando há enchente, a coisa, parece, enfim, coiso e tal mas não, afinal não, era muito a brincar, desculpinha, vai apenas abrir concurso para um lugar de Funcionário Judicial no Tribunal de Ourém e vão ser enviados mais quatro guardas para o quartel da GNR de Fátima, e um walkie talkie. Só que, agora a sério, ah, ah, está tão boa, não é nada disso, passa-se que não há mesmo nada de nada, inventámos tudinho (não, eram só os políticos que sabiam!) e fica tudo na mesma, afinal. Quem diria.
Temos sim que o Procurador Geral da República diz ter os poderes da Rainha de Inglaterra. Não, claro que não estamos a brincar. Nunca. Pronto, vá, é mesmo a sério. E outros magistrados do Ministério Público que dizem o contrário do que outros vêm dizer com toda a confiança e tranquilidade, e os outros que garantem ter ainda gritado, ou escrito num despacho, ‘larguem-nos que a gente agarra-os!’ (também: ‘empurrem-nos que a gente puxa-os’, ‘amandem-nos que gente ampara-os’ e ‘lembrem-nos se não a gente esquece-os’) - isto em antes de o PGR ter assumido a sua inesperada faceta real. São formas originais de dizerem que muito podem, em estatuto, e muito querem, mas. Muito mandam, na aparência, e muito tentam, mas. Mas: o sistema. Mas: as circunstâncias. Mas: os interesses. Mas: nós vamos tentar compreender-vos, MAS, temos dúvidas de que agora seja o melhor momento para, vindo a público para aparentemente se justificarem, por essa via aparentemente procurarem ser ouvidos uns pelos outros.
A não ser que, no caso do PGR, faça algum sentido a revelação e ele tenha de facto os poderes da Rainha de Inglaterra (e ainda o poder de ir embora, que ela não tem), como por exemplo o poder de fazer uma cara grave e séria no dia seguinte à publicação nos jornais das coscuvilhices e escândalos à volta dos membros do Palácio Real. Ou o poder de suportar o governo. Qualquer que seja o significado que se atribua a ‘suportar’.