quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mais do que os políticos, que já não acreditam no povo e vão moderando as grandes tiradas e a euforia promessista (oh, povo bom e tolo, para onde te ausentaram teus passos, errante!?), os senhores da Justiça estão numa fase de portentosa confiança no falar: não sei quê, novos procedimentos, novos meios disponibilizados para resolução dos casos mais simples, e que se espera e tal que a taxa de ocorrência da chamada “pequena criminalidade” (ao menos essa, dizemos nós), a nível nacional, possa descer para níveis comparáveis aos das zonas mais seguras do país, blá-blá-blá. Pois sim. Talvez como em Fátima. Em dia de chuva. E de pouca gente, porque quando há enchente, a coisa, parece, enfim, coiso e tal mas não, afinal não, era muito a brincar, desculpinha, vai apenas abrir concurso para um lugar de Funcionário Judicial no Tribunal de Ourém e vão ser enviados mais quatro guardas para o quartel da GNR de Fátima, e um walkie talkie. Só que, agora a sério, ah, ah, está tão boa, não é nada disso, passa-se que não há mesmo nada de nada, inventámos tudinho (não, eram só os políticos que sabiam!) e fica tudo na mesma, afinal. Quem diria.
Temos sim que o Procurador Geral da República diz ter os poderes da Rainha de Inglaterra. Não, claro que não estamos a brincar. Nunca. Pronto, vá, é mesmo a sério. E outros magistrados do Ministério Público que dizem o contrário do que outros vêm dizer com toda a confiança e tranquilidade, e os outros que garantem ter ainda gritado, ou escrito num despacho, ‘larguem-nos que a gente agarra-os!’ (também: ‘empurrem-nos que a gente puxa-os’, ‘amandem-nos que gente ampara-os’ e ‘lembrem-nos se não a gente esquece-os’) - isto em antes de o PGR ter assumido a sua inesperada faceta real. São formas originais de dizerem que muito podem, em estatuto, e muito querem, mas. Muito mandam, na aparência, e muito tentam, mas. Mas: o sistema. Mas: as circunstâncias. Mas: os interesses. Mas: nós vamos tentar compreender-vos, MAS, temos dúvidas de que agora seja o melhor momento para, vindo a público para aparentemente se justificarem, por essa via aparentemente procurarem ser ouvidos uns pelos outros.
A não ser que, no caso do PGR, faça algum sentido a revelação e ele tenha de facto os poderes da Rainha de Inglaterra (e ainda o poder de ir embora, que ela não tem), como por exemplo o poder de fazer uma cara grave e séria no dia seguinte à publicação nos jornais das coscuvilhices e escândalos à volta dos membros do Palácio Real. Ou o poder de suportar o governo. Qualquer que seja o significado que se atribua a ‘suportar’.

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