terça-feira, 30 de novembro de 2010

Atracções baratas


Onde é que ficava mesmo bem uma árvore da Natal de 25 metros toda feita de luzes? Em Fátima, e porquê? Porque se trata de um lugar sem atracções baratas (só que do tipo caríssimas, neste caso), à parte um ou outro boneco fabricado com restos de plático na China, e onde, para mais, nunca se viu uma árvore iluminada de maneira pouco natural. Um lugar também sem qualquer espaço amplo para andar volta e meia de joelhos no chão, fora do santuário, mas que agora vai finalmente ter uma pista de gelo. Ah: e um lugar que vai ter iluminações nas ruas, o que à noite é bom, porque os parques de estacionamento estão vazios e assim quem quiser vai para lá andar nem que seja em estilo crawl, ou mesmo de bruços, sem tropeçar nas coisas. E com isso não incomoda os cristãos, que têm todo o direito de estar em paz no santuário.
As pessoas de Fátima queixam-se do desperdício de dinheiro, mas esquecem-se de que é Natal. E de que é Fátima. O Natal simplesmente não seria o que é sem desperdício de dinheiro, e Fátima também não. A própria Nossa Senhora, diga-se, tem alguma culpa nisso, uma vez que é por causa dela que temos quer uma coisa, quer outra. Mas o Pai Natal é que estragou com o resto: se não houver árvore de Natal certificada por técnico de luzes, não há presentes; e faz questão de associar o Natal ao frio e ao gelo mais do que era necessário. A ponto de já termos saudades do bafo reconfortante do burro da vaca e do Zé, aliás, desabafo, no caso dele.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Se os mercados não acreditam em nós...

Mas já alguém viu os mercados? Na-não, não nos convencem. Isso foi tudo inventado para assustar, como o lobo e o Pedro ou coisa parecida sem ter nada a ver, o homem do saco e os sete papões. De maneira que é assim. Mas ainda a propósito de São Venceslau: se os mercados existissem, como é que eles faziam para advertir as pessoas, aliás, mais concretamente, os governos do mundo todo que se portam mal, espancá-los logo, à mesma hora se for preciso e tudo, e como é que tinham tantos açoites para tantos países? Pois, «têm uma fábrica na China»!
Tal como acontece com outras “realidades” cuja existência parece sempre duvidosa a muitos, também com os mercados não faltam teorias para explicar tudo o que lhes diz respeito, e de todas as maneiras. Aliás, quanto menos se sabe ao certo de certos fenómenos, mais sobram as “teorias” sobre eles.
Deve ser o caso: ai, os mercados não querem saber de pormenores, dizem uns; ui, os mercados estão atentíssimos a tudo o que se passa cá, dizem outros; pois, mas a aprovação do orçamento na Assembleia da República é fundamental para os mercados; o que é engraçado é que os mercados nem sabem se temos orçamento ou não, se temos República ou fazemos parte da Espanha; os mercados são entidades que actuam racionalmente; os mercados são completamente irracionais; os mercados na verdade foram criados por civilizações mais avançadas, as quais apenas pretendem guiar-nos pelo caminho correcto através dos sinais que enviam; os mercados são por natureza parasitários, escolhem um determinado país, destroem-no e alimentam-se dos despojos. Blá-blá mercados, mercados blá-blá.
Só no Público de hoje, na página desta notícia sobre os últimos acontecimentos na Irlanda, podem lêr-se nos “artigos relacionados”, todos juntos a meio da página, à esquerda, estes títulos: Ulrich: Intervenção na Irlanda pode ajudar a estabilizar os mercados; Sócrates espera que pedido de ajuda da Irlanda acalme os mercados e trave especulação; Economistas dizem que ajuda à Irlanda aumenta pressão sobre Portugal.
Blá-blá-blá. Se os mercados não acreditam em nós, com mais razão podemos nós não acreditar neles. E tudo se resolve, é tão simples.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Escreve-se 'as mais sexies' ou 'as mais sexy'? Neste caso, colunas de opinião e não só

Já estamos fartos da cimeira, da cimeira, da cimeira. E no entanto não saberíamos viver sem os GUIAS COMPLETOS DA CIMEIRA DA NATO, OS MAPAS, OS DOSSIERS, Os Artigos de Fundo, os destaques, as últimas, as galerias e as mulheres mais sexy da cimeira da nato, as colunas de opinião mais sábias sobre a nato, e até as mais sexy, a história da nato em fascículos por apenas mais um euro, os DVDs e todas as outras coisas, e todas as outras coisas, aliás, que a imprensa traz em doses generosas estes dias, incluindo fotografias de mulheres meio despidas e 'insólitos'.
Por falar em notícias importantes, o Obama já aterrou? Sabemos que ele não é treinador de futebol mas, mesmo assim, estamos em pulgas e não aguentamos mais de curiosidade nervosa, para não dizer idiota e no entanto completamente emocionante. E o Sócrates, já se foi embora? Sim, parece que o Obama já aterrou. Confirmámos agora mesmo.

U. A.U. Por um momento deixámos de querer saber se é 'as mais sexies' ou 'as mais sexy'. Este gajo, sim, é um senhor e convidá-lo-íamos para jantar não fosse os americanos serem contra. Temos que respeitar certas coisas. Não é grave, já temos o Bo para nos representar na família presidencial (tomara muito país!).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sem papas de aveia

Num governo sem pasta, esperava-se talvez que ao menos as palavras proferidas pelos ministros, em entrevistas e isso, não entrassem em derrapagem. Mas não, o descontrolo é completo, o que a bem dizer nem admira em pessoas que estavam habituadas a dar notas de cinquenta aos pombos, quando passeavam pelos parques. Agora ainda lhes dão umas moedas e grandes cachas aos jornalistas.
O ministro Teixeira dos Santos, ora diz “FMI: há risco elevado”, ao Financial Times (aproveitando também para passar ao jornalista inglês uma nota de cinco e um papelito com a palavra HELP!), ora assegura, logo a seguir, que “pedido de ajuda não está eminente”. Como lembra o i, aqui.
O ministro Luis Amado por sua vez disse ao Expresso, no Sábado, que estava “saturado”, que “o país precisa de uma coligação” (era este, aliás, o título da notícia). Quando confrontado com essas afirmações, na Assembleia dos Deputados, o ministro disse assim: sim, sim, mas “os títulos das notícias são um compromisso entre o que os jornalistas gostariam que nós disséssemos e o que está dito”, conforme se pode ler aqui .
Tudo leva a crer que é bastante bom este raciocínio do ministro. Tudo leva. Não é preciso ter muita imaginação para pereceber que Luis Amado, na entrevista, terá dito qualquer coisa como: “Estamos à rasca, ai agora, e não sei quê. O PSD que venha, e o FMI!”. Então, então, sr. ministro, respire um pouco, terão dito os jornalistas do Expresso, e o ministro respondia “Querem o poder, vocês, sei lá?”, sr. ministro, o sr. está de fora e não sabe como é difícil ser jornalista. Falar é fácil. Quem é que faria o nosso trabalho? Bom, o que podemos fazer, continuavam os jornalistas, é um compromisso entre o que nos acabou de dizer e aquilo que nós gostaríamos que o sr. tivesse dito, e nós gostaríamos por exemplo que dissesse qualquer coisa relacionada com a enormíssima vontade do governo em resolver os problemas, não admitindo nem excluindo à partida a necessidade de qualquer solução governativa específica (pelo menos na medida em que a não quisesse mesmo revelar). Sendo assim, que tal anunciar logo no título que, de acordo com o sr. ministro, o país precisa de uma coligação? Parece-lhe bem, para compromisso entre 'Luis Amado: governo está em pânico e vamos todos sucumbir' e 'Luis Amado: governo vai resolver tudo e nunca dormiu melhor'?
Está bem, então fica 'Luis Amado: o país precisa de uma coligação'. Está a ver como tudo se resolve? Vá, já passou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A substituição das pessoas

“Não era substituindo pessoas que os problemas passariam, por milagre, a ser resolvidos” diz hoje ao DN o ministro Jorge Lacão, acrescentando depois, no alinhamento da notícia, que “ o problema das dívidas soberanas é europeu e que deve ser resolvido nesse plano – com um recuo de Angela Merkel”. Com o recuo de Angela Merkel, muito bem. Só para não haver mais crispações.
Percebe-se claramente, lendo a entrevista, que o ministro vê com maus olhos a substituição do governo (ou de alguns dos seus elementos), de que tanto se fala ultimamente. E não sem razão. Desde que Angela Merkel se tornou nossa primeira-ministra, as coisas só têm piorado. De facto, como bem lembra o ministro, “não era substituindo pessoas que os problemas passariam, por milagre, a ser resolvidos.”
Portanto agora, srª. Merkel, há que recuar, se faz favor. O alegado primeiro-ministro quer passar. Danke. E já agora, nós queremos vê-lo realmente a governar. Auf wiedersehen.

A entrevista está aqui.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estando o castelo sitiado


Muito bem, mercados! O PS e o PSD já assinaram os termos da rendição. O que é que querem mais, afinal? Hein? Trigo? Terras? As nossas mulheres e filhas? A tecnologia do Magalhães? O nosso líder? Pode ser. Ele será óptimo em qualquer reino bem governado. Para desenjoar. E para optimizar em geral.
Pode ser tudo. Tudo e o nosso líder. Excepto – é a nossa única exigência – a chave do castelo. Isso não, nunca entregaremos! Na verdade nem sabemos dela! Perdêmo-la! E agora estamos aqui fechados! Já vimos na gaveta de cima! Vocês também perderam o sentido ético e a racionalidade, do final do século passado até 2008! Portanto calem-se! Mas se nos derem umas tendas – e nos arrombarem a porta –, podem ficar com o casebre que nós vamos para o vosso acampamento. Sempre deve ter menos mofo e ah!, temos umas ilhas, escutem, são autênticos jardins, fiquem com elas, só dão é despesa, e entretanto desapertem um pouco o cerco. E temos umas relações de irmandade com alguns paíeses, fiquem também com as academias de futebol e tratem bem do submarino.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cavaco social


Não sabemos se a estas horas já será do conhecimento geral em Taipé que o candidato Cavaco Silva se encontra presente enquanto tal à Presidência da República nas redes sociais Twitter e Facebook. Só para o caso de se querem fazer amigos dele. No entanto, convém avisar, estas amizades são um bocado superficiais. É que não é mesmo ele que comunica socialmente com as pessoas, quem o faz é uma 'equipa'. É uma pena que não se aproveite todo o potencial das redes sociais para o contacto humano mais genuíno, baseado normalmente na sempre tão calorosa partilha de fotos das últimas férias e de mensagens de circunstância (hum, quem será 'a equipa', no twitter? vendo bem, parece cativar mais, como entidade abstracata, do que o Cavaco, como pessoa amiga, no facebook, para partilha de fotos de férias).
O que ele faz, o Cavaco, é deixar lá pelo meio umas mensagens genéricas a apelar umas ideias e a uns valores interessantes mas precisamente... genéricos: 'Vejo com muita apreensão o desprestígio da classe política...', por exemplo. Mas depois não comenta nem responde a nada. O costume, só que desta vez, para consolo de cidadãos preocupados e twittantes como o smakingg, o dejerusalem ou o ovvo, ao menos desta vez 'a equipa' está sempre disposta a ir entretendo.
Conclusão: é tudo muito giro e muito melhor do que a praga de cartazes de senhores que querem ser Presidentes da República e que por isso tratam de encher as paisagens com uma profusão monótona de caras e slogans, já daqui a pouco. Além de giro, é mais barato, ecológico e higiénico.
E a propósito de monotonia, bem como a propósito do desprestígio da classe política, uma das grandes utilidades que nós destacaríamos para Presidente Cavaco dar ao Twitter, além de substituir os cartazes, a ver vamos quantos, seria a de por essa via fazer aquelas comunicações ao país relacionadas com tudo o que seja por exemplo o «Estatuto dos Açores», palpites sobre eventuais «escutas» no Palácio, e afins, deixando os telejornais das oito horas livres para as notícias do dia.