Num governo sem pasta, esperava-se talvez que ao menos as palavras proferidas pelos ministros, em entrevistas e isso, não entrassem em derrapagem. Mas não, o descontrolo é completo, o que a bem dizer nem admira em pessoas que estavam habituadas a dar notas de cinquenta aos pombos, quando passeavam pelos parques. Agora ainda lhes dão umas moedas e grandes cachas aos jornalistas.
O ministro Teixeira dos Santos, ora diz “FMI: há risco elevado”, ao Financial Times (aproveitando também para passar ao jornalista inglês uma nota de cinco e um papelito com a palavra HELP!), ora assegura, logo a seguir, que “pedido de ajuda não está eminente”. Como lembra o i, aqui.
O ministro Luis Amado por sua vez disse ao Expresso, no Sábado, que estava “saturado”, que “o país precisa de uma coligação” (era este, aliás, o título da notícia). Quando confrontado com essas afirmações, na Assembleia dos Deputados, o ministro disse assim: sim, sim, mas “os títulos das notícias são um compromisso entre o que os jornalistas gostariam que nós disséssemos e o que está dito”, conforme se pode ler aqui .
Tudo leva a crer que é bastante bom este raciocínio do ministro. Tudo leva. Não é preciso ter muita imaginação para pereceber que Luis Amado, na entrevista, terá dito qualquer coisa como: “Estamos à rasca, ai agora, e não sei quê. O PSD que venha, e o FMI!”. Então, então, sr. ministro, respire um pouco, terão dito os jornalistas do Expresso, e o ministro respondia “Querem o poder, vocês, sei lá?”, sr. ministro, o sr. está de fora e não sabe como é difícil ser jornalista. Falar é fácil. Quem é que faria o nosso trabalho? Bom, o que podemos fazer, continuavam os jornalistas, é um compromisso entre o que nos acabou de dizer e aquilo que nós gostaríamos que o sr. tivesse dito, e nós gostaríamos por exemplo que dissesse qualquer coisa relacionada com a enormíssima vontade do governo em resolver os problemas, não admitindo nem excluindo à partida a necessidade de qualquer solução governativa específica (pelo menos na medida em que a não quisesse mesmo revelar). Sendo assim, que tal anunciar logo no título que, de acordo com o sr. ministro, o país precisa de uma coligação? Parece-lhe bem, para compromisso entre 'Luis Amado: governo está em pânico e vamos todos sucumbir' e 'Luis Amado: governo vai resolver tudo e nunca dormiu melhor'?
Está bem, então fica 'Luis Amado: o país precisa de uma coligação'. Está a ver como tudo se resolve? Vá, já passou.
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