Mas já alguém viu os mercados? Na-não, não nos convencem. Isso foi tudo inventado para assustar, como o lobo e o Pedro ou coisa parecida sem ter nada a ver, o homem do saco e os sete papões. De maneira que é assim. Mas ainda a propósito de São Venceslau: se os mercados existissem, como é que eles faziam para advertir as pessoas, aliás, mais concretamente, os governos do mundo todo que se portam mal, espancá-los logo, à mesma hora se for preciso e tudo, e como é que tinham tantos açoites para tantos países? Pois, «têm uma fábrica na China»!
Tal como acontece com outras “realidades” cuja existência parece sempre duvidosa a muitos, também com os mercados não faltam teorias para explicar tudo o que lhes diz respeito, e de todas as maneiras. Aliás, quanto menos se sabe ao certo de certos fenómenos, mais sobram as “teorias” sobre eles.
Deve ser o caso: ai, os mercados não querem saber de pormenores, dizem uns; ui, os mercados estão atentíssimos a tudo o que se passa cá, dizem outros; pois, mas a aprovação do orçamento na Assembleia da República é fundamental para os mercados; o que é engraçado é que os mercados nem sabem se temos orçamento ou não, se temos República ou fazemos parte da Espanha; os mercados são entidades que actuam racionalmente; os mercados são completamente irracionais; os mercados na verdade foram criados por civilizações mais avançadas, as quais apenas pretendem guiar-nos pelo caminho correcto através dos sinais que enviam; os mercados são por natureza parasitários, escolhem um determinado país, destroem-no e alimentam-se dos despojos. Blá-blá mercados, mercados blá-blá.
Só no Público de hoje, na página desta notícia sobre os últimos acontecimentos na Irlanda, podem lêr-se nos “artigos relacionados”, todos juntos a meio da página, à esquerda, estes títulos: Ulrich: Intervenção na Irlanda pode ajudar a estabilizar os mercados; Sócrates espera que pedido de ajuda da Irlanda acalme os mercados e trave especulação; Economistas dizem que ajuda à Irlanda aumenta pressão sobre Portugal.
Blá-blá-blá. Se os mercados não acreditam em nós, com mais razão podemos nós não acreditar neles. E tudo se resolve, é tão simples.
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