quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Finalmente os «casos» nacionais são literalmente inclassificáveis

Haverá «casos» e mistérios fáceis de deslindar em Portugal, se calhar. Coisas de interesse público sobre as quais recai alguma suspeita, do futebol a, enfim, todo um mundo e assuntos. Haverá. Casos. Fáceis de deslindar. Se calhar.
No futuro. Agora, há casos difíceis. Por exemplo: que «caso nacional» se deslindou ultimamente, na verdade? Algum? Temos ideia de que não, não temos a certeza, lá está, é um dos casos difíceis que há. Parece que quase nada, ou nada, se deslindou ainda, de modo que está tudo lindo. E amoroso. E depois há outros que meu Deus.
Tipo meu Deus. Mas isto foi engendrado à sorte numa agência noticiosa por meio de alguma criança, um saco preto e palavras aleatórias escritas em papelinhos embrulhados, ou pediram ao miúdo para simplesmente inventar uma história maluca? Há coisas que um gajo não perecebe quando se põe a pensar, e essa é outra possível explicação.
Bancos. Dão abrigo a pessoas, e tal, luzes, profissionais bem vestidos e cordatos. Barba bem feita. Muito bem, mas, se um gajo lá vai, sente-se mal se não tiver as unhas aparadas e, de qualquer maneira, é aliciado a cometer um empréstimo para ir à Galiza no fim-de-semana e depois não é bem assim, mas se fôr uma empresa com necessidade de dinheiro para trabalhar está lixado, e se o gajo fôr um país como Portugal está lixado e paga do belo. Países. Portanto tínhamos bancos, agora temos a palavra países (e gajo, mas esse está sempre lixado e não conta). Dizer então que é incrível a quantidade de histórias que podem ocorrer com a regência destas duas palavras. Podemos ter bancos que têm que ser a dada altura salvos pelo estado para que não acabe em desintegração o sistema financeiro do país, sendo que com isso os países que o façam ficam à mercê do pouco crédito concedidos por bancos para se financiarem, uma das razões para que os bancos desse país, alguns dos quais podem até não ter grandes problemas, fiquem dependentes de um eventual apoio do governo desse pouco creditado país para que eles próprios, bancos, tenham crédito. Ou seja, acabámos de torcer as linhas da cabeça e alguns de nós vomitaram, à falta de melhor. Claro que tudo isto é uma verdade tão clara e profunda que a podíamos repetir, não sei quê bancos que têm que ser a dada altura salvos pelo estado para que não acabe em desintegração o sistema financeiro do país, etc., mas mesmo n' Os Diferentes Media se podem encontrar ecos dessa Escritura Sagrada (aqui um exemplo), a qual como sabeis começa assim, não sei quê bancos que têm que ser, etc., apesar de quase tudo nos ditos media na verdade não passar de um amontoado de simplificações grosseiras da realidade. Como sabeis.
Se casos assim entre bancos e países são possíveis num país qualquer, num país específico como Portugal as possibilidades de criação de enredos são infinitas e calha que os de comédia romântica ainda tenham admiradores mas que sejam os de gangsters e espionagem internacional os preferidos. Ora, não só neste quadro mas também, como classificar o «caso BPN»? Parece lógico dizer que existem na verdade pelo menos dois casos extraídos do mesmo monte de adubo orgânico. De um lado, teríamos a história da trafulhice em larga escala que poderia envolver, ou não, mais ou menos figuras da política nacional, e na qual no fim de contas nada se viria jamais a saber (um clássico); do outro, mais um thriller do Ministério das Finanças, ou de responsáveis pelos dinheiros públicos em geral, relacionado com o tema do misterioso desaparecimento de inocentes quantias astronómicas, na prateleira ao lado dos desenhos animados. Estivessem assim as coisas e nós, público batido em produções de quinta categoria, talvez nem déssemos por nada. Mas alguns dos «críticos», que nem sempre são muito melhores, têm andado mais enredados nos meandros teóricos e práticos da sua escola de origem do que noutra coisa e têm-se mostrado demasiado parciais, ora enfatizando o lado funesto, ora o escabroso, o que os confunde em vez de fazer distinguir. E isso não só tem tornado difícil a classificação, como nos tem chamado a atenção, que tanta falta nos faz, para este estranho caso BPN.
Muitos são os casos aparentemente irresolúveis e simultaneamente horríveis, eis inaugurada a era dos casos literalmete inclassificáveis.

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