domingo, 20 de março de 2011

Também sabemos dizer coisas sem sentido


É agora, a nossa vida colectiva espera ansiosamente por conhecer o seu destino, tudo está prestes a ser decidido: se se confirma a crise política, se as finanças se estatelam, se é o caos, se logo surgem soluções redentoras, enfim, o costume de há 200 anos para cá. Mais uma vez, é agora.
Só que é diferente, pela simples razão de que desta vez é agora. E é sempre assim que funciona, a cada vez. Mas também porque desta vez parece que realmente estamos a caprichar na dose, ditosos os portugueses a quem coube viver este tempo.
E porquê? Não perecebemos nada do que está a acontecer, na verdade, mas o Sócrates tem razão. É mais simples passar simplesmente a acreditar em tudinho o que diz. Fazer outra coisa dá muito trabalho – e muito medo –, daí que a partir de agora tem ele a razão e acabou.
Assim, a anunciada austeridade só se pode efectivamente dever a diferenças na análise das estatísticas: o governo diz alhos, na União Europeia dizem bugalhos, pelo sim pelo não austeriza-se um pouco mais. Com a magninimidade de quem sabe que tem razão, o governo pode dar-se ao luxo de olhar de cima para a coitada da Europa. Não quer que ela fique mal ela que, aiás, nem se sabe governar e já tem tantas dívidas e está numa situação de tão grande fraqueza. A apreciação do que será a médio ou longo prazo o desenlace do confronto entre os deves e os haveres das nossas contas, e mais sabendo nós o que são também as contas das economias europeias, tendo em conta quer os encargos assumidos e os previstos quer as melhores perspectivas de crescimento, convence de imediato mesmo o observador mais desatento sobre as razões desta austeridade. Na dúvida, decide-se a favor do mais fraco (a Europa). É uma questão de cautela, não vá a Portugal por exemplo ter um desempenho económico e financeiro tão bom que as entidades europeias venham a ter que morrer de vergonha ou coisa assim. Faz ou não faz sentido a austeridade neste quadro? Sócrates só pode ter razão.
Pobre Europa.

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