Agora que uma pessoa não sabe se há-de ver um telejornal ou ter uma dor de dentes, seguida de um par de dedos enfiados nos olhos e um ataque suicida de pânico e gases em plena reunião do governo com o FMI depois de este ter saído, eis que surge, por fim e para compensar, a primeira muçulmana a posar nua para a Playboy. O mundo estava precisado, porque até aqui, da Muçulmânia, só de burqa havia quem ousasse aparecer em revistas. E todos homens.
Mas esta parece que se virou para a família e disse Hoje apetece-me hoje fazer qualquer coisa radical, O quê filha adorada, posar nua para a Playboy? Não, caldo verde com chouriço de cobaia! Ah. E vai a família toda e só lhe deu uma bofetada, cada um. Ela nem se tinha atrevido a dizer ‘porquinho-da-índia’ – por ser matéria sensível e perigosa de abordar, experimentou com a cobaia – mas aquilo, como se sabe, é gente implacável por natureza. E quando é para enveredar pela radicalidade, não importa em que sentido, não há cá meias medidas: vê lá mas é se não queres rebentar com um grupo aleatório de pessoas numa praça qualquer, ou então se não te apetece fazer qualquer coisa inadmissível e superchocante, para depois rebentarmos nós contigo à porrada, ou tipo a tiro.
E foi assim que ela pensou que seria melhor tornar-se explosiva pela via da Playboy. Os pais é que foram uma decepção: apenas deixaram de lhe falar (mas ao menos nem lhe disseram nada sobre isso, e ela, coitada, toda confusa). Foi assim.
E muito bem. Porque, ao contrário daquela malta que se rebenta na rua, matando quem passa, para conhecer setenta gajas tocadoras de harpa no Paraíso, este tipo de mulher-bomba, além de até parecer devolver a vida aos mortos, dá a conhecer o paraíso a milhões de gajos tocadores de gaita cá na terra. É muito mais pragmático e altruísta aparecer na Playboy do que interesseiramente alguém matar-se para ser playboy no céu (como todos os muçulmanos fazem, todinhos, como sabemos, e pelo menos uma vez! essa malta!). Ser-se modelo da Playboy é ser paraíso que não se sonha: já se vê. Enfim, até nós, que apreciamos pouco religiões que não exijam uma autodisciplina implacável e masoquista como forma de ter ao menos a possibilidade de ouvir falar na promessa do paraíso e da sua música harpaica, até nós, confessamos, estamos completamente convertidos.
Para quem não sabe, se é que há alguém, dizer ainda que qualquer religião proíbe os gases em reuniões com o FMI (já cá fora, para dispersar os chatos dos anti-globalização, é expressamente recomendado). Mas nós agora já estamos num nível completamente diferente das coisas, e o que muita gente concretamente gostaria de saber é qual a posição do Islão quanto ao assunto em questão. Não sabemos. Bem qual é. Mas sempre dizemos que há muitas maneiras de encarar o véu (e especialmente depois de termos visto a foto). E também que, se é absolutamente inaceitável, para qualquer pessoa decente, a morte de inocentes, como é – para não falar em ser inaceitável para qualquer religião decente, como é –, já no caso de quem queira livremente aparecer nu na Playboy, sem aleijar ninguém, meu Deus. Nem mais nem menos: seria caso, achamos nós, para cada um simplesmente dizer «meu Deus», dando-lhe a entoação que quisesse (tipo ‘meu Deus, que esta leviana se arrependa e pague duramente pelo mal que fez’, no caso dos mais beatos; ou tipo ‘meu Deus, esta gaja é tão boa’, no caso dos mais depravados, como nós; ou tipo ‘meu Deus, confio apenas no Teu julgamento, e não no desses moralistas de trazer por casa, nem no desses outros (ou Mesmos) depravados’, como poderia ser o caso do que pensa a rapariga, dizemos nós).
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