Ganhar-lhes-emos na final do Mundial de 2018 em plena Madrid, quando organizarmos o campeonato em conjunto (e eles é que ficam com as despesas!). Oh, ganhar-lhes-emos.
Não é vergonha nenhuma, já tem acontecido outros países perderem finais de competições importantes em casa. E nós não iremos deixá-los desanimar, não deixar-los-emos. Acontece, não nos sentimos superiores por causa disso. Eles têm um certo complexo de inferioridade, pelo que convém sermos compreensivos, são nossos irmãos,e sendo nós não só compreensivos como magnânimos, como somos, a nossa festa é a sua festa, e eles pagam-na. Porompompero, porom, ai pagam-nas, porompompero, porum, porum, por um a zero, porom, porom, raça da músicaaaa. Lá-lá-lá-lá.
Mais coisas pela positiva: a RTP, o nosso carrasco sempre que há campeonatos, vai retomar a programação de qualidade já a partir de hoje; a França, que é boa pessoa mas à tarde, antes dos jogos, impossível de aturar de chata, e na verdade a toda e qualquer hora, teve desta vez a generosidade de nos proporcionar breves mas super divertidos momentos de futebol; o professor Marcelo falhou todos os prognósticos; e, sobretudo, a Espanha ficará agora ainda mais cheiinha de ilusión e de ganas de por supuesto ganar, e assim vai saber bem melhor quando afinal perder já no próximo jogo. Ou então quando perder a final em 2018, contra nós. Enfim, estarão debaixo de olho, que é para isso que servem os irmãos.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Por falar em finais perdidas em casa, quem é que já se esqueceu daquela final Brasil-Uruguai do Mundial de 1950 que os brasileiros perderam no grandioso Maracanã, construído de propósito para o evento, tal como outros estádios, para depois perderem, coitados? E para, por essas e por outras parecidas, se verem entretanto entalados com uma dívida gigantesca que durou décadas? Só mesmo no Brasil. Se fôssemos nós não perderíamos com o Uruguai nem que este se visse grego, mas os brasileiros pouco ou nada percebem de futebol.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Os governos socialistas são como a Inglaterra de Capello: primeiro abrem auto-estradas por onde toda a gente pode passar, e depois exigem a introdução de chips.
Os portugueses são como a Alemanha daquele gajo que faz lembrar um bocado o Paulo Bento, tirando a coolness, mas não é bem Bento… é o, é o, é o Joaquim, exacto; Joachim Sebento, mais exactamente ainda (é parecido, mas muito menos cool que Paulo Bento): querem aproveitar ao máximo as auto-estradas grátis, até ao limite da potência das suas máquinas, em violação ou não das regras. Os portugueses, dizíamos nós.
Quem é que tem razão nesta polémica? É já óbvio para toda a gente que é absolutamente indiferente: os alemães acabariam por ganhar o jogo de uma maneira ou de outra, e os portugueses acabarão por pagar as auto-estradas de uma maneira qualquer. Absolutamente indiferente. Portanto, para variar, é o Paulo Bento.
Os portugueses são como a Alemanha daquele gajo que faz lembrar um bocado o Paulo Bento, tirando a coolness, mas não é bem Bento… é o, é o, é o Joaquim, exacto; Joachim Sebento, mais exactamente ainda (é parecido, mas muito menos cool que Paulo Bento): querem aproveitar ao máximo as auto-estradas grátis, até ao limite da potência das suas máquinas, em violação ou não das regras. Os portugueses, dizíamos nós.
Quem é que tem razão nesta polémica? É já óbvio para toda a gente que é absolutamente indiferente: os alemães acabariam por ganhar o jogo de uma maneira ou de outra, e os portugueses acabarão por pagar as auto-estradas de uma maneira qualquer. Absolutamente indiferente. Portanto, para variar, é o Paulo Bento.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Há uma notícia inesperada a agitar os meios culturais portugueses, soube O Mesmo agora: salas próprias e exclusivas para conversas cultas vão passar a ser obrigatórias por lei em todos os estabelecimentos de restauração e hotelaria. Vir cá fora fazer um bocadinho de conversa sobre qualquer coisa que vá além do fútil, ou de tudo aquilo que são as coisas consideradas social e clinicamente normais, dependendo da perspectiva, que a d’O Mesmo é isenta, também vai ser possível. Desde que os fumadores, que já passam muito por estarem ao frio, não se sintam demasiado incomodados.
Vai outra? Vai: descoberto palácio chinês em Portugal. Tau! (Não só uma onomatopeia, como, curiosamente, o nome da dinastia em cujo estilo provavelmente se enquadra o monumento, pode adiantar O Mesmo; mas convém não esquecer que agora já não se pode falar disso à mesa do café; ping!)
Como é que se explica uma coisa destas? Se O Mesmo não tivesse obtido a informação através do Diário de Notícias não teria acreditado. Um palácio chinês? Imagina-se que debaixo daqueles telhados estilizados existam salas repletas de porcelanas, sedas e jarrões. E deve ter os seus próprios acrobatas, músicos e cantores de ópera, pescadores de barbatanas de tubarão, escribas e sábios, eunucos e concubinas. Em Portugal! E nós o máximo que conseguimos fazer é pavilhões que vendem pastéis de nata em Xangai. Pong!
Ah, esse tipo de palácio. Não deve ter um único eunuco, então. Está bem, ‘palácio’ é uma metáfora. A não ser que se trate na verdade de um estabelecimento que, mesmo sem eunucos – que dão sempre um toque de requinte extra a qualquer casa -, consiga ser sumptuoso de alguma maneira. Claro que se à partida estamos com esta conversa toda é porque efectivamente... não deve ser nada disso. Vejamos: logo NA LEGENDA da foto se lê que funcionava no que parece ser ‘um edifício abandonado’; depois podemos constatar que tem a aparência de ‘loja de produtos chineses’; também fala em 'vasos asiáticos', é certo, mas estes até por aquelas são vendidos (em todas!); depois ‘palacete ([porra!]…) iluminado por luz fluorescente’ (quer dizer [ãhh….] que nem antes de ser um 'edifício abandonado' chegou a ser palácio! mas ao menos a luz fluorescente deve ajudar a devolver alguma sumptuosidade); tem 'karaoke, jogos [uau!] e confortáveis sofás’; mais abaixo um habitué pronuncia-se: ‘não perceber, só vim aqui ao restaurante’. E mesmo a acabar somos ainda contemplados com uma bela passagem da vida palaciana: «(…) “Trabalho num ‘chinoca’, mas não tenho contrato”, gritava a loura de vestido preto.» Tong!
Onde está então o palácio, mesmo se é ‘ (…) do sexo’? Uma metáfora um pouco forçada, não? No mínimo, a bota do título não bate com a perdigota do texto. Será que tudo o que é oriental tem logo que ser exótico? Orientemo-nos. Se fossemos nós os donos do negócio seria uma sorte se lhe chamassem ‘casa de alterne’, quanto mais palácio. E é por isso mesmo que, apesar de sermos amantes incuráveis de Karaoke, não abrimos nenhuma. Fong!!
Vai outra? Vai: descoberto palácio chinês em Portugal. Tau! (Não só uma onomatopeia, como, curiosamente, o nome da dinastia em cujo estilo provavelmente se enquadra o monumento, pode adiantar O Mesmo; mas convém não esquecer que agora já não se pode falar disso à mesa do café; ping!)
Como é que se explica uma coisa destas? Se O Mesmo não tivesse obtido a informação através do Diário de Notícias não teria acreditado. Um palácio chinês? Imagina-se que debaixo daqueles telhados estilizados existam salas repletas de porcelanas, sedas e jarrões. E deve ter os seus próprios acrobatas, músicos e cantores de ópera, pescadores de barbatanas de tubarão, escribas e sábios, eunucos e concubinas. Em Portugal! E nós o máximo que conseguimos fazer é pavilhões que vendem pastéis de nata em Xangai. Pong!
Ah, esse tipo de palácio. Não deve ter um único eunuco, então. Está bem, ‘palácio’ é uma metáfora. A não ser que se trate na verdade de um estabelecimento que, mesmo sem eunucos – que dão sempre um toque de requinte extra a qualquer casa -, consiga ser sumptuoso de alguma maneira. Claro que se à partida estamos com esta conversa toda é porque efectivamente... não deve ser nada disso. Vejamos: logo NA LEGENDA da foto se lê que funcionava no que parece ser ‘um edifício abandonado’; depois podemos constatar que tem a aparência de ‘loja de produtos chineses’; também fala em 'vasos asiáticos', é certo, mas estes até por aquelas são vendidos (em todas!); depois ‘palacete ([porra!]…) iluminado por luz fluorescente’ (quer dizer [ãhh….] que nem antes de ser um 'edifício abandonado' chegou a ser palácio! mas ao menos a luz fluorescente deve ajudar a devolver alguma sumptuosidade); tem 'karaoke, jogos [uau!] e confortáveis sofás’; mais abaixo um habitué pronuncia-se: ‘não perceber, só vim aqui ao restaurante’. E mesmo a acabar somos ainda contemplados com uma bela passagem da vida palaciana: «(…) “Trabalho num ‘chinoca’, mas não tenho contrato”, gritava a loura de vestido preto.» Tong!
Onde está então o palácio, mesmo se é ‘ (…) do sexo’? Uma metáfora um pouco forçada, não? No mínimo, a bota do título não bate com a perdigota do texto. Será que tudo o que é oriental tem logo que ser exótico? Orientemo-nos. Se fossemos nós os donos do negócio seria uma sorte se lhe chamassem ‘casa de alterne’, quanto mais palácio. E é por isso mesmo que, apesar de sermos amantes incuráveis de Karaoke, não abrimos nenhuma. Fong!!
terça-feira, 22 de junho de 2010
O Marcelo. O submarino.
Marcelo, o Vidente, todo ele em êxtase, palpitava 3-0 contra a Coreia do Norte. Já no jogo contra a Costa do Marfim tinha sido a mesma coisa. O Mesmo por acaso acreditava que o resultado seria ralmente de 7-0. Mas para os coreanos. Que iríamos completamente ao fundo. Ora, sendo assim, O Mesmo fica com 14 golos de saldo positivo face às expectativas. É obra. O Marcelo leva uns não desprezíveis 4. É fraquinho, comparado com tão monstruosos 14 nossos, mas, como sabemos ser impossível vê-lo deprimido, acreditamos que o professor há-de dar uma qualquer volta genial ao texto, do género vir dizer que ficou mais perto no que respeita à forma, no conteúdo esteve menos bem, blá-blá-blá político-jurídico-tático-catequético, e que portanto ganhou a aposta. E ainda fica a rir, com um brilhozinho nos olhos (lá-lá-lá e pintámos o sete).
O Mesmo não se importa, porque o Marcelo é simpático. O Mesmo esse que, no entanto, não esquece que, se por acaso, o remate de Cha Jong Hyok não tivesse falhado a baliza por pouco, se Jong Tae Se não estivesse menos inspirado do que é costume na cobrança de livres, se depois não tivesse falhado outro golo ainda, desmarcado, se Hong Yong Jo, acho que foi ele, não tivesse desaproveitado o remate naquele seu estilo inconfundível de pegar na bola, se até o próprio Na Yong Ak não estivesse uns furos abaixo do que costuma fazer aos 20 minutos da 1ª parte, se o Ji Yun Nam também lá andasse a fazer não sei o quê naquela jogada a seguir, e se aquele livre perigoso aos 37 minutos cobrado por Ja Nam Sey Queim não tivesse passado ao lado, quer dizer, se os coreanos não tivessem sido também simpáticos (e, claro, se o 16, o 11, o 18, o 19, o 9, o 7 e outra vez o 19 da outra equipa não tivessem marcado nas suas oportunidades), a Coreia do Norte poderia de facto ter ganho por 7-0. Esteve quase.
Mas não. Na verdade não compreendo porque é que tanta gente embirra com aquele país asiático; sendo eles assim uma simpatia. Já em 1966 se prestaram cordialmente a uma remontada histórica. Ouçam, vocês querem ser nossos amigos? Têm tão poucos…
Eu, nestes entretantos, acho já que a nossa selecção é um bocado boa, pelo que se arrisca a poder regressar lá da Razoável Esperança em paquete de luxo, todo ele em forma de gloriosa Caravela do Bartolomeu Dias construido de propósito para o efeito. Mas se for verdade aquilo que dizem sobre gostarem os norte-coreanos de afundar navios de outros países só porque sim - o que não me parece nada fazer o género deles - ou bem que nos asseguramos de que realmente somos amigos, e aquilo do 7-0 entra na conta da extremosa cortesia asiática, ou então sempre é melhor dar alguma coisa que fazer ao Tridente.
Marcelo, o Vidente, todo ele em êxtase, palpitava 3-0 contra a Coreia do Norte. Já no jogo contra a Costa do Marfim tinha sido a mesma coisa. O Mesmo por acaso acreditava que o resultado seria ralmente de 7-0. Mas para os coreanos. Que iríamos completamente ao fundo. Ora, sendo assim, O Mesmo fica com 14 golos de saldo positivo face às expectativas. É obra. O Marcelo leva uns não desprezíveis 4. É fraquinho, comparado com tão monstruosos 14 nossos, mas, como sabemos ser impossível vê-lo deprimido, acreditamos que o professor há-de dar uma qualquer volta genial ao texto, do género vir dizer que ficou mais perto no que respeita à forma, no conteúdo esteve menos bem, blá-blá-blá político-jurídico-tático-catequético, e que portanto ganhou a aposta. E ainda fica a rir, com um brilhozinho nos olhos (lá-lá-lá e pintámos o sete).
O Mesmo não se importa, porque o Marcelo é simpático. O Mesmo esse que, no entanto, não esquece que, se por acaso, o remate de Cha Jong Hyok não tivesse falhado a baliza por pouco, se Jong Tae Se não estivesse menos inspirado do que é costume na cobrança de livres, se depois não tivesse falhado outro golo ainda, desmarcado, se Hong Yong Jo, acho que foi ele, não tivesse desaproveitado o remate naquele seu estilo inconfundível de pegar na bola, se até o próprio Na Yong Ak não estivesse uns furos abaixo do que costuma fazer aos 20 minutos da 1ª parte, se o Ji Yun Nam também lá andasse a fazer não sei o quê naquela jogada a seguir, e se aquele livre perigoso aos 37 minutos cobrado por Ja Nam Sey Queim não tivesse passado ao lado, quer dizer, se os coreanos não tivessem sido também simpáticos (e, claro, se o 16, o 11, o 18, o 19, o 9, o 7 e outra vez o 19 da outra equipa não tivessem marcado nas suas oportunidades), a Coreia do Norte poderia de facto ter ganho por 7-0. Esteve quase.
Mas não. Na verdade não compreendo porque é que tanta gente embirra com aquele país asiático; sendo eles assim uma simpatia. Já em 1966 se prestaram cordialmente a uma remontada histórica. Ouçam, vocês querem ser nossos amigos? Têm tão poucos…
Eu, nestes entretantos, acho já que a nossa selecção é um bocado boa, pelo que se arrisca a poder regressar lá da Razoável Esperança em paquete de luxo, todo ele em forma de gloriosa Caravela do Bartolomeu Dias construido de propósito para o efeito. Mas se for verdade aquilo que dizem sobre gostarem os norte-coreanos de afundar navios de outros países só porque sim - o que não me parece nada fazer o género deles - ou bem que nos asseguramos de que realmente somos amigos, e aquilo do 7-0 entra na conta da extremosa cortesia asiática, ou então sempre é melhor dar alguma coisa que fazer ao Tridente.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Numa época de crise, não é, faz sentido cortar nas despesas. Não é por nossa causa, que nós, tecnicamente, meu Deus! Andamos tão bem sobre as águas turbulentas como o Marcelo acerta nos resultados da selecção (3-0? pfff!). Temos técnica para a crise, pronto. Não é vergonha admitir. E é por causa de quem, então? É complexo. Crise vem do grego κρίσις (momento de tensão que chega abruptamente), sim essa Grécia, que inventou os Sócrates (gajos que facilmente dizem não saber nada) com as suas polis (cidades, sociedades idealizadas) e os seus desconcertantes diálogos (aparente troca de ideias, na qual os Sócrates não respondem, antes perguntam outra coisa ao interlocutor) para assim darem uma lição aos kromos (nós), que ousamos pensar que sabemos a verdade (vamos dar o berro).
E prontos, temos esta queda pelas coisas clássicas. Como por exemplo, apertar o cinto. Amanhã começam os cortes nas despesas. Corte elegante, ainda. Clássico. Depois virá toda a classe de impostos. Deselegante, sempre. Muitíssimo clássico.
Parece que alguns impostos serão aprovados pelo governo antes mesmo de os deputados se pronunciarem. Vai dar ao mesmo, mas nas despesas não dá, porque quem tem o Cartão de Crédito na mão é mesmo, sabe o Mesmo, o parlamento, e por isso o ministro Teixeira dos Santos, o Estou Lixado, teve que o ir pedir ao Presidente da Assembleia, Jaime Gama, o Estou-me nas tintas. Este é o acto de entrega. Segundo soube o Mesmo agora, Jaime Gama terá dito ‘toma lá, mas não te esqueças que agora tem plafond’, e o ministro ‘está bem’, e agora tudo o que é despesas é pago com aquilo (e o pessoal a pensar que quem vende um submarino ou uma ponte sobre o Tejo não tinha leitor de Multibanco… Ai, quer dizer! Agora o Minipreço tinha e essa malta não, se calhar! Outra coisa é só aceitarem pagamento em dinheiro vivo, mas isso é porque querem; e porque já não confiam em nós, não é pela falta das maquinetas).
E prontos, temos esta queda pelas coisas clássicas. Como por exemplo, apertar o cinto. Amanhã começam os cortes nas despesas. Corte elegante, ainda. Clássico. Depois virá toda a classe de impostos. Deselegante, sempre. Muitíssimo clássico.
Parece que alguns impostos serão aprovados pelo governo antes mesmo de os deputados se pronunciarem. Vai dar ao mesmo, mas nas despesas não dá, porque quem tem o Cartão de Crédito na mão é mesmo, sabe o Mesmo, o parlamento, e por isso o ministro Teixeira dos Santos, o Estou Lixado, teve que o ir pedir ao Presidente da Assembleia, Jaime Gama, o Estou-me nas tintas. Este é o acto de entrega. Segundo soube o Mesmo agora, Jaime Gama terá dito ‘toma lá, mas não te esqueças que agora tem plafond’, e o ministro ‘está bem’, e agora tudo o que é despesas é pago com aquilo (e o pessoal a pensar que quem vende um submarino ou uma ponte sobre o Tejo não tinha leitor de Multibanco… Ai, quer dizer! Agora o Minipreço tinha e essa malta não, se calhar! Outra coisa é só aceitarem pagamento em dinheiro vivo, mas isso é porque querem; e porque já não confiam em nós, não é pela falta das maquinetas).
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Um tablóide britânico, cheio de chancela, descobriu parte do até agora misterioso ciclo de vida dos regimes políticos da Europa do Sul. Ou antes assim, talvez: descobriu a misteriosa parte que faltava do ciclo de vida dos regimes políticos da Europa do Sul, a fase da passagem para a democracia é bem conhecida, tem que ver sobretudo com a nojenta lei que multava quem cuspisse para o chão. Incrível, não?
É que temos de ser rigorosos na descrição e evocação das diferentes fases do ciclo de evolução e destruição, caso contrário, estas – no caso, o Apocalipse –, podem não acontecer de todo. Pelo menos da forma prevista, e quem é que está interessado em ter um Apocalipse defeituoso?
De qualquer forma, o que já se sabe é: a economia colapsa e aparecem uns ditadores montados em tanques do exército tocando trombetas. É este o comportamento típico destes exóticos e malfadados ecossistemas das regiões do Sul, em boa hora descrito pelo Mail.
Ao que parece, este trabalho de fundo do tablóide britânico não se baseia numa leitura atenta do calendário Maia, nem numa conversa franca com duas Testemunha de Jeová, mas antes no que foi relatado por um dos intervenientes de uma reunião havida entre John Monks, ex-director da TUC e o presidente da Comissão, José Manuel Barroso. Bom, sem querer pôr em causa a credibilidade e reputação da TUC, nem dos tablóides britânicos cabe perguntar: quem é afinal esse presidente da Comissão?
Investigámos e, ah!, é o Cherne. Só que na UE mudou de nome, por causa das espinhas que o peixe deixava nas gargantas dos jornalistas estrangeiros, mais habituados a douradinhos de pescada. Ele é bom em palpites, ridicularizou uma vez um conceituado analista do futuro, de nome Santana Lopes, designando-o por ‘Zandinga’. E bastou dizer que um dia seria primeiro-ministro e, nas calmas, foi-o. E mais, sem fazer ideia que o seria no momento em que o foi. Coisa que o próprio previra tal e qual que o seria, como de facto o foi, e foi-o de tal modo que ultrapassou o que antevira, ao tornar-se o primeiro português a aceitar ser por uns tempos o Presidente da Comissão de Festas. Neste momento não são poucos os que traçam cenários apocalípticos, talvez porque às vezes o mundo parece estar completamente maradado dos fusíveis, mas agora terá sido o Durão.
Sigam o.
(Mas não exagerem, sendo o. Que é.)
É que temos de ser rigorosos na descrição e evocação das diferentes fases do ciclo de evolução e destruição, caso contrário, estas – no caso, o Apocalipse –, podem não acontecer de todo. Pelo menos da forma prevista, e quem é que está interessado em ter um Apocalipse defeituoso?
De qualquer forma, o que já se sabe é: a economia colapsa e aparecem uns ditadores montados em tanques do exército tocando trombetas. É este o comportamento típico destes exóticos e malfadados ecossistemas das regiões do Sul, em boa hora descrito pelo Mail.
Ao que parece, este trabalho de fundo do tablóide britânico não se baseia numa leitura atenta do calendário Maia, nem numa conversa franca com duas Testemunha de Jeová, mas antes no que foi relatado por um dos intervenientes de uma reunião havida entre John Monks, ex-director da TUC e o presidente da Comissão, José Manuel Barroso. Bom, sem querer pôr em causa a credibilidade e reputação da TUC, nem dos tablóides britânicos cabe perguntar: quem é afinal esse presidente da Comissão?
Investigámos e, ah!, é o Cherne. Só que na UE mudou de nome, por causa das espinhas que o peixe deixava nas gargantas dos jornalistas estrangeiros, mais habituados a douradinhos de pescada. Ele é bom em palpites, ridicularizou uma vez um conceituado analista do futuro, de nome Santana Lopes, designando-o por ‘Zandinga’. E bastou dizer que um dia seria primeiro-ministro e, nas calmas, foi-o. E mais, sem fazer ideia que o seria no momento em que o foi. Coisa que o próprio previra tal e qual que o seria, como de facto o foi, e foi-o de tal modo que ultrapassou o que antevira, ao tornar-se o primeiro português a aceitar ser por uns tempos o Presidente da Comissão de Festas. Neste momento não são poucos os que traçam cenários apocalípticos, talvez porque às vezes o mundo parece estar completamente maradado dos fusíveis, mas agora terá sido o Durão.
Sigam o.
(Mas não exagerem, sendo o. Que é.)
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O Mesmo informa quem ainda não sabe que os navios de guerra são, para efeitos legais, território nacional onde quer que se encontrem. (É, não é? Eu pelo menos tinha uma professora cujo Toyta desportivo tinha já leitor de CD que nos ensinava isso mesmo, e não as estações da Linha do Oeste).
Supõe-se que, legal e legitimamente, lá para 2011 teremos novo território. Supõe-se. É, portanto, apenas um supositório. Que a gente há-de engolir. Não se trata da devolução de Olivença, nem do parto de uma ilha nos Açores, que ao menos seria natural e barato. Nem do regresso da Madeira, enteada pródiga. Não chega a ser um torrão, excepto no orçamento, mas já houve oportunidade para nele hastear a bandeira nacional. Antes da data. Talvez para apoiar a selecção.
Durante os testes, informa O Mesmo, foi ao fundo com a bandeira ainda hasteada (por esquecimento ou solidariedade) e uma escotilha a meter água (por solidariedade). Entretanto, aprofundando ainda mais os gestos de solidariedade com a selecção, e indo além do plano simbólico, há quem adiante que poderá inclusivamente ir buscar os jogadores à África do Sul enquanto faz os testes de pressão (que os jogadores considerarão de baixa intensidade, face ao que os aguardaria à superfície), para os deixar durante a noite num ponto incerto da costa portuguesa. Segundo O Mesmo foi informado, caso se verifique um cenário de cerco no aeroporto por parte de adeptos agitados, este poderá ser o primeiro, e talvez o único, serviço que o Tridente fará alguma vez à República Portuguesa.
Ou antes, seria assim... se o ministro da defesa Santos Silva, o Malhão, não tivesse oportunamente mandado instalar um fecho éclair à proa, conforme se pode constatar na foto. E que abrirá em caso de necessidade para que saia o arpão que ferrará qualquer traineira espanhola mais atrevida que venha lançar as malhas onde não deve. Nada de abusar. Aqui quem malha é ele.
Também me parece bem o hastear da bandeira na embarcação tendo em conta todo o enredo trágico-marítimo que a tem envolvido: custa os olhos da cara tendo pouco mais préstimo que o TGV; é novo em folha e já se fala, talvez por causa da água do mar, em corrupção; a derrapagem nos custos não podia faltar; histórias manhosas e mal paridas, enfim, extremas dificuldades em penetrar a densa e escura núvem que cobre todo o processo, já lá moram há muito; as investigações e processos na justiça fazem parte da mobília; a banalíssima comissão de inquérito parece não se fazer rogada; na política nacional, propriamente dita, nem adianta falar, até uma prancha de surf daria polémica. Portanto, tridente, ergue a bandeira e dá cá um abraço. És dos nossos.
(Não, tu é que és um gajo porreiro. Não, não, bem-vindo a bordo tu. Vá, juizinho agora, olha o ministro.)
Ministro que já veio dizer (está mesmo lá, nos antepenúltimo e no penúltimo parágrafos) que no âmbito de umas auditorias e recomendações ambientais relativas ao edifício do Ministério da Defesa e outros organismos, a Defesa (nós!) fará «suculentas poupanças» de verbas. Pois então.
Com a compra dos submarinos, ao que parece, houve também quem fizesse suculentos pés-de-meia. Só que... não fomos nós. Será que uma auditoria mais abrangente ao Ministério da Defesa, e outros organismos, não possibilitaria descobertas igualmente suculentas? Se já fizeste o que te era possível, e eu sei que o negócio vem de outro governo (mais uma razão para malhares!), peço desculpa pela insistência; se não, ó Malhão, Malhão, mas que vida é a tua? Assegura-te ao menos que percebeste bem como foi possível todo esse conjunto de crimes, que são eventuais e também de bradar a todos os Céus. De todos os Universos. Eventualmente. (Por exemplo já apareceu a factura, ou lá o que é? E o registo de propriedade do veículo? E tem o selo pago? Eu tenho tudo como manda a lei no que respeita ao meu Clio, até o nível do óleo). Vê lá então o que se passa com o ‘teu’ Tridente, para que da próxima vez possas malhar logo, antes que o bicho fuja (agora na Direita? e na Esquerda? coitadas delas; e de nós). Sim, e ele – esse bicho -, é que verdadeiramente deveria ser malhado, no meio de tudo isto.
Supõe-se que, legal e legitimamente, lá para 2011 teremos novo território. Supõe-se. É, portanto, apenas um supositório. Que a gente há-de engolir. Não se trata da devolução de Olivença, nem do parto de uma ilha nos Açores, que ao menos seria natural e barato. Nem do regresso da Madeira, enteada pródiga. Não chega a ser um torrão, excepto no orçamento, mas já houve oportunidade para nele hastear a bandeira nacional. Antes da data. Talvez para apoiar a selecção.
Durante os testes, informa O Mesmo, foi ao fundo com a bandeira ainda hasteada (por esquecimento ou solidariedade) e uma escotilha a meter água (por solidariedade). Entretanto, aprofundando ainda mais os gestos de solidariedade com a selecção, e indo além do plano simbólico, há quem adiante que poderá inclusivamente ir buscar os jogadores à África do Sul enquanto faz os testes de pressão (que os jogadores considerarão de baixa intensidade, face ao que os aguardaria à superfície), para os deixar durante a noite num ponto incerto da costa portuguesa. Segundo O Mesmo foi informado, caso se verifique um cenário de cerco no aeroporto por parte de adeptos agitados, este poderá ser o primeiro, e talvez o único, serviço que o Tridente fará alguma vez à República Portuguesa.
Ou antes, seria assim... se o ministro da defesa Santos Silva, o Malhão, não tivesse oportunamente mandado instalar um fecho éclair à proa, conforme se pode constatar na foto. E que abrirá em caso de necessidade para que saia o arpão que ferrará qualquer traineira espanhola mais atrevida que venha lançar as malhas onde não deve. Nada de abusar. Aqui quem malha é ele.
Também me parece bem o hastear da bandeira na embarcação tendo em conta todo o enredo trágico-marítimo que a tem envolvido: custa os olhos da cara tendo pouco mais préstimo que o TGV; é novo em folha e já se fala, talvez por causa da água do mar, em corrupção; a derrapagem nos custos não podia faltar; histórias manhosas e mal paridas, enfim, extremas dificuldades em penetrar a densa e escura núvem que cobre todo o processo, já lá moram há muito; as investigações e processos na justiça fazem parte da mobília; a banalíssima comissão de inquérito parece não se fazer rogada; na política nacional, propriamente dita, nem adianta falar, até uma prancha de surf daria polémica. Portanto, tridente, ergue a bandeira e dá cá um abraço. És dos nossos.
(Não, tu é que és um gajo porreiro. Não, não, bem-vindo a bordo tu. Vá, juizinho agora, olha o ministro.)
Ministro que já veio dizer (está mesmo lá, nos antepenúltimo e no penúltimo parágrafos) que no âmbito de umas auditorias e recomendações ambientais relativas ao edifício do Ministério da Defesa e outros organismos, a Defesa (nós!) fará «suculentas poupanças» de verbas. Pois então.
Com a compra dos submarinos, ao que parece, houve também quem fizesse suculentos pés-de-meia. Só que... não fomos nós. Será que uma auditoria mais abrangente ao Ministério da Defesa, e outros organismos, não possibilitaria descobertas igualmente suculentas? Se já fizeste o que te era possível, e eu sei que o negócio vem de outro governo (mais uma razão para malhares!), peço desculpa pela insistência; se não, ó Malhão, Malhão, mas que vida é a tua? Assegura-te ao menos que percebeste bem como foi possível todo esse conjunto de crimes, que são eventuais e também de bradar a todos os Céus. De todos os Universos. Eventualmente. (Por exemplo já apareceu a factura, ou lá o que é? E o registo de propriedade do veículo? E tem o selo pago? Eu tenho tudo como manda a lei no que respeita ao meu Clio, até o nível do óleo). Vê lá então o que se passa com o ‘teu’ Tridente, para que da próxima vez possas malhar logo, antes que o bicho fuja (agora na Direita? e na Esquerda? coitadas delas; e de nós). Sim, e ele – esse bicho -, é que verdadeiramente deveria ser malhado, no meio de tudo isto.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Quando eu era rapazinho, ia a casa de uma velhinha que, quer fosse por fazer anos, ou meses ou semanas, quer por passar de ano ou de dia, sempre que me via, me dava dois ou três bolinhos. E às vezes chocolate.
Quando me fiz rapazote, mais bela rosa mirava de tal casinha, e a trazia já por minha, como quem se acha muito forte; e então a velha vinha, gabava da neta, a por ora, lembrava, esbatida formosura, e logo me dizia, sem ternura, que eu era forte... mas em gordura.
E assim já lhe assegurava, mensalmente ou quando podia, que cada vez mais me exercitava, e menos alimento engolia. Em meu relatórios aflitos ela crente sempre se fazia. Mas muito tempo passado não era, quando meus erros me vinha apontar, e perguntar onde aprendera os vícios por que, para meu azar, muito ainda teria que gemer.
Segundo o Público.
Quando me fiz rapazote, mais bela rosa mirava de tal casinha, e a trazia já por minha, como quem se acha muito forte; e então a velha vinha, gabava da neta, a por ora, lembrava, esbatida formosura, e logo me dizia, sem ternura, que eu era forte... mas em gordura.
E assim já lhe assegurava, mensalmente ou quando podia, que cada vez mais me exercitava, e menos alimento engolia. Em meu relatórios aflitos ela crente sempre se fazia. Mas muito tempo passado não era, quando meus erros me vinha apontar, e perguntar onde aprendera os vícios por que, para meu azar, muito ainda teria que gemer.
Segundo o Público.
terça-feira, 15 de junho de 2010
O cheiro a escândalo já anda no ar há demasiado tempo para que a gente não tenha ainda nada de substancial para encher a barriga. Aqui no artelho, sempre que vem tempo de chuva, sinto-o chegar. E depois passa, normalmente. Se a chuva não vem, fica a doer mais e durante mais tempo. É porque era outra coisa, e tanto andei eu a dizer que vinha chuva para nada. Sim, sim, queremos saber se Sócrates, o Bem Vestido, tem alguma nódoa afinal ou não. E aquilo do desculpe, com que interrompe os jornalistas, como quem nos puxa os cabelitos com força atrás, na pele sensível do pescoço antes da nuca, ele também é assim na intimidade? E usa pastilhas para o mau hálito? Mas tem algum defeito afinal, ou aquilo é o quê? Parece que é perfeito, o raio do homem, se não é faz-se.
Mesmo que por pura sorte, por exemplo durante a investigação de outro caso, se escutasse alguma coisa que o incriminasse, e se por sorte pura e sentido do dever, as autoridades que tinham esse caso a seu cargo fizessem denúncia ao Procurador Geral, este, por ventura, engonhasse conjuntamente com o Presidente do Supremo, mas, ainda num delírio que me está a vir, por questões de consciência das prioridades, alguém fizesse chegar por portas travessas alguma dessa coisa escutada aos jornais, e estes por dever de informar a publicassem, e ainda se por responsabilidade democrática viesse a haver uma comissão de inquérito parlamentar para apurar os factos (meu Deus!), e nela vamos supor que se colocava a hipótese de interna e legalmente terem os deputados acesso a algumas dessas escutas, e vamos agora imaginar que só alguns lhes queriam tocar, e que elas acabavam por não ter relevância nem qualquer efeito nos trabalhos comissariados, nem se chegava a conclusão nenhuma sobre a possibilidade de revelar publicamente o despacho que dá conta da possibilidade legal da própria utilização do resumo das escutas privadamente, mas já agora, que por razões de princípio um deputado ameaçava revelar o despacho e a carta que acompanharam o resumo das escutas se não houvesse uma decisão na e pela comissão até sexta feira. Custa muito, mas vamos tenatar imaginar que todo este cenário é real.
Mas agora admita-se que o deputado cumpre a ameaça em voz de vuvuzela de tal modo estridente que todas as sinapses estabelecidas via dinamite cerebral estourariam de vez. E quê? Nada, por supuesto. Nenhuma mancha cairia a tempo em cima do Sócrates. Que espécie de país quer um escândalo com o sentido rítmico de um zombie? Não, não, queremos algo vibrante e espectacular, como no Vaticano.
Mas algum escândalo tem que haver por aqui algures, não escrevi todo este enredo para nada. É que a história pode estar contada de maneira a parecer que é uma coisa e no fim vir a ser o seu contrário. Há filmes assim. Se for isso, está bem. Eu próprio ainda não sei como acaba.
Vamos ver. Como seria esta história ao contrário? No segundo parágrafo, onde agora está ‘Mesmo que por pura sorte…’ passaríamos a ter ‘Mesmo que por pura mesquinhez… ’; e assim por diante, substituindo: ‘sentido do dever’ por ‘agenda política’; ‘consciência das prioridades’ por ‘oportunismo desavergonhado’; ‘dever de informar’ por ‘sensacionalismo’; ‘responsabilidade democrática’ por ‘cinismo politiqueiro’; e ‘razões de princípio’ por ‘schadenfreude’. Seria aparentemente caso para grande escandaleira (também), mas assim em pára-arranca continua a estar para um verdadeiro escândalo como a burocracia na justiça está para a paixão amorosa. Não há emoção, não há lágrimas nem suor. Nem sangue.
Há então, ao que parece (ainda acredito em mal-entendidos (nos filmes)), duas possibilidades: ou o Sócrates cheira mal da boca, e é um escândalo; ou a sociedade portuguesa está tão infecta que umas quantas pessoas desprezíveis, de vários sectores, conseguem com toda a facilidade e impunidade montar um esquema mal cheiroso. E é um escândalo. Ou então há um pouco das duas coisas, e então já são três possibilidades. E é um escândalo.
Agora decidam-se, o que eu sei é que preciso rapidamente de algo escandaloso, que tenho os níveis de enxofre no sangue muito em baixo, dói-me o artelho e não sei como acabar este filme.
Mesmo que por pura sorte, por exemplo durante a investigação de outro caso, se escutasse alguma coisa que o incriminasse, e se por sorte pura e sentido do dever, as autoridades que tinham esse caso a seu cargo fizessem denúncia ao Procurador Geral, este, por ventura, engonhasse conjuntamente com o Presidente do Supremo, mas, ainda num delírio que me está a vir, por questões de consciência das prioridades, alguém fizesse chegar por portas travessas alguma dessa coisa escutada aos jornais, e estes por dever de informar a publicassem, e ainda se por responsabilidade democrática viesse a haver uma comissão de inquérito parlamentar para apurar os factos (meu Deus!), e nela vamos supor que se colocava a hipótese de interna e legalmente terem os deputados acesso a algumas dessas escutas, e vamos agora imaginar que só alguns lhes queriam tocar, e que elas acabavam por não ter relevância nem qualquer efeito nos trabalhos comissariados, nem se chegava a conclusão nenhuma sobre a possibilidade de revelar publicamente o despacho que dá conta da possibilidade legal da própria utilização do resumo das escutas privadamente, mas já agora, que por razões de princípio um deputado ameaçava revelar o despacho e a carta que acompanharam o resumo das escutas se não houvesse uma decisão na e pela comissão até sexta feira. Custa muito, mas vamos tenatar imaginar que todo este cenário é real.
Mas agora admita-se que o deputado cumpre a ameaça em voz de vuvuzela de tal modo estridente que todas as sinapses estabelecidas via dinamite cerebral estourariam de vez. E quê? Nada, por supuesto. Nenhuma mancha cairia a tempo em cima do Sócrates. Que espécie de país quer um escândalo com o sentido rítmico de um zombie? Não, não, queremos algo vibrante e espectacular, como no Vaticano.
Mas algum escândalo tem que haver por aqui algures, não escrevi todo este enredo para nada. É que a história pode estar contada de maneira a parecer que é uma coisa e no fim vir a ser o seu contrário. Há filmes assim. Se for isso, está bem. Eu próprio ainda não sei como acaba.
Vamos ver. Como seria esta história ao contrário? No segundo parágrafo, onde agora está ‘Mesmo que por pura sorte…’ passaríamos a ter ‘Mesmo que por pura mesquinhez… ’; e assim por diante, substituindo: ‘sentido do dever’ por ‘agenda política’; ‘consciência das prioridades’ por ‘oportunismo desavergonhado’; ‘dever de informar’ por ‘sensacionalismo’; ‘responsabilidade democrática’ por ‘cinismo politiqueiro’; e ‘razões de princípio’ por ‘schadenfreude’. Seria aparentemente caso para grande escandaleira (também), mas assim em pára-arranca continua a estar para um verdadeiro escândalo como a burocracia na justiça está para a paixão amorosa. Não há emoção, não há lágrimas nem suor. Nem sangue.
Há então, ao que parece (ainda acredito em mal-entendidos (nos filmes)), duas possibilidades: ou o Sócrates cheira mal da boca, e é um escândalo; ou a sociedade portuguesa está tão infecta que umas quantas pessoas desprezíveis, de vários sectores, conseguem com toda a facilidade e impunidade montar um esquema mal cheiroso. E é um escândalo. Ou então há um pouco das duas coisas, e então já são três possibilidades. E é um escândalo.
Agora decidam-se, o que eu sei é que preciso rapidamente de algo escandaloso, que tenho os níveis de enxofre no sangue muito em baixo, dói-me o artelho e não sei como acabar este filme.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Não é novidade para ninguém que, em matéria de Leis, e de Justiça em geral, Portugal passaria num exame estritamente teórico, mas chumba na prática. Já quanto aos costumes o caso é exactamente o mesmo, que é uma forma completamente diferente de dizer a mesma coisa. Porque essas leis que para aí andam agora, muito avançadas e modernas, como a nova lei do tabaco nos estabelecimentos hoteleiros, estão desfasados da mentalidade do português médio. Que legal ou ilegalmente continua conservador, fumador, machista, leitor de jornais desportivos de preferência com fotos de gajas, tanto vai a Fátima como vê filmes pornográficos, ainda trafica tabaco dentro do próprio café além de o fumar, anti-paneleiro e vota PS. Esta descrição do português médio é ela própria muito teórica, porque eu já a vi enunciada mais ou menos nestes termos mais que inumeríssimas vezes e nunca conheci ninguém assim. Mesmo que fosse legalmente permitido, nós nunca conseguiríamos casar teoria com prática em assunto nenhum, é tão simples quanto isto.
Mas não deixa de ser verdade que nós queremos parecer uma coisa por fora enquanto continuamos a ser outra por dentro. Ter o Expresso a servir de cobertura à Playboy numa esplanada é um caso prático e real disto mesmo. Ouvi falar. Não conheço portugueses médios, como já disse (mas o Expresso e a Playboy ? quem diria! e no entanto é excitante! ‘numa esplanada…’).
Felizmente que a imprensa de hoje está a pôr à prova esta duplicidade do português médio. Ainda não podemos propriamente encontrar lado a lado nos jornais notícias da política ou da economia com reportagens gráficas que cujo título, No convento das Carmelitas descalças, poderia servir de inspiração para produtos de entretenimento ainda mais vilipendiados socialmente, e individualmente desejados, do que a Playboy, ou notícias com abordagens sugestivas a um putativo Clube das Virgens ( como foi a primeira vez), a não ser que cliquemos aqui e aqui. Se depois lermos os comentários dos portugueses médios sobre a virgem que preside a esse clube, repararemos que o preconceito ainda é rei (portugueses médios esses que só aparecem nos comentários da Internet, nunca ninguém os vê; já as corajosas virgens sempre aparecem noutros sítios, para que sejam de facto, por raros e breves instantes, vistas por muitos abençoados). Na reportagem sobre as carmelitas não temos comentários de portugueses médios, mas pensando agora melhor, dou-me conta de que esta é a centésima vez que os media fazem reportagem em conventos. Em média há umas dez reportagens médias por ano sobre o assunto. O que pode ser novo é a consciência de que alguns jornalistas médios talvez levem muitas vezes consigo a visão estereotipada e a curiosidade tacanha de português médio sobre modos de vida desviados… da média. Não sei, nalguns casos pelo menos parece-me que sim. Quanto mais não seja pela repetição.
Já que as leis não mudam os preconceitos médios relativos a freiras, virgens, gays ou swingers, por exemplo, também não mudo os meios preconceitos em relação às leis, ou à sua relevância relativa, nem os que tenho em relação aos portugueses e jornalistas médios - que talvez não existam em teoria, nem uns nem outros.
Mas não deixa de ser verdade que nós queremos parecer uma coisa por fora enquanto continuamos a ser outra por dentro. Ter o Expresso a servir de cobertura à Playboy numa esplanada é um caso prático e real disto mesmo. Ouvi falar. Não conheço portugueses médios, como já disse (mas o Expresso e a Playboy ? quem diria! e no entanto é excitante! ‘numa esplanada…’).
Felizmente que a imprensa de hoje está a pôr à prova esta duplicidade do português médio. Ainda não podemos propriamente encontrar lado a lado nos jornais notícias da política ou da economia com reportagens gráficas que cujo título, No convento das Carmelitas descalças, poderia servir de inspiração para produtos de entretenimento ainda mais vilipendiados socialmente, e individualmente desejados, do que a Playboy, ou notícias com abordagens sugestivas a um putativo Clube das Virgens ( como foi a primeira vez), a não ser que cliquemos aqui e aqui. Se depois lermos os comentários dos portugueses médios sobre a virgem que preside a esse clube, repararemos que o preconceito ainda é rei (portugueses médios esses que só aparecem nos comentários da Internet, nunca ninguém os vê; já as corajosas virgens sempre aparecem noutros sítios, para que sejam de facto, por raros e breves instantes, vistas por muitos abençoados). Na reportagem sobre as carmelitas não temos comentários de portugueses médios, mas pensando agora melhor, dou-me conta de que esta é a centésima vez que os media fazem reportagem em conventos. Em média há umas dez reportagens médias por ano sobre o assunto. O que pode ser novo é a consciência de que alguns jornalistas médios talvez levem muitas vezes consigo a visão estereotipada e a curiosidade tacanha de português médio sobre modos de vida desviados… da média. Não sei, nalguns casos pelo menos parece-me que sim. Quanto mais não seja pela repetição.
Já que as leis não mudam os preconceitos médios relativos a freiras, virgens, gays ou swingers, por exemplo, também não mudo os meios preconceitos em relação às leis, ou à sua relevância relativa, nem os que tenho em relação aos portugueses e jornalistas médios - que talvez não existam em teoria, nem uns nem outros.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
No 10 de Junho de hoje, dia da República e do grande Homero, o nosso Presidente discursará ao país! Faz cem anos, o Portugal, já merecia uma palavrinha. Este 10 de Junho é especial também por ser o último antes do Apocalipse: da vitória da Besta, a Espanha, na África do Sul. E da extinção do Euro, da implosão dos mercados, do fim do modelo social europeu, da decomposição da economia, da decadência do Ocidente, e da invasão dos bárbaros. O fim do mundo em 2012 será um alívio.
Todos os aperitivos estão portanto servidos para que o discurso que não tarda cale fundo. O Presidente é bom a calar fundo. Atenção. Chega a haver verdadeira pressão, diz o DN (o Presidente é o da esquerda, na foto), para que o Chefe de Estado fale da crise que atravessamos, mas o Cavaco não se deixa pressionar nunca, diz ele próprio constantemente, e nunca fala sobre nada, como está toda a gente farta de saber, faz uns sons, e na verdade profere umas palavras sem dizer seja o que for, o Sampaio fazia isso mesmo mas de uma maneira completamente diferente, não tenho tempo agora para analisar o assunto com a profundidade que ele merece, e uns dizem que seria impensável que o Aníbal não falasse da crise num dia como do 10 de Junho, e outros dizem que seria melhor poupar as pessoas a essa fala, e está toda a gente à espera e a dar palpites, e o Professor é isto. É um cinema mudo cheio de falso suspense e que no entanto se revela muitas vezes mais adequado do que os filmes high tech dos outros realizadores. O algarvio é mais um dramaturgo, deve ser isso.
Viva o 10 de Junho, viva a Restauração, viva o mais alto Magistrado da Nação. Volto a pôr o link, vale a pena, é o da esquerda, tanta confiança, tão boas competências, viva Portugal.
Todos os aperitivos estão portanto servidos para que o discurso que não tarda cale fundo. O Presidente é bom a calar fundo. Atenção. Chega a haver verdadeira pressão, diz o DN (o Presidente é o da esquerda, na foto), para que o Chefe de Estado fale da crise que atravessamos, mas o Cavaco não se deixa pressionar nunca, diz ele próprio constantemente, e nunca fala sobre nada, como está toda a gente farta de saber, faz uns sons, e na verdade profere umas palavras sem dizer seja o que for, o Sampaio fazia isso mesmo mas de uma maneira completamente diferente, não tenho tempo agora para analisar o assunto com a profundidade que ele merece, e uns dizem que seria impensável que o Aníbal não falasse da crise num dia como do 10 de Junho, e outros dizem que seria melhor poupar as pessoas a essa fala, e está toda a gente à espera e a dar palpites, e o Professor é isto. É um cinema mudo cheio de falso suspense e que no entanto se revela muitas vezes mais adequado do que os filmes high tech dos outros realizadores. O algarvio é mais um dramaturgo, deve ser isso.
Viva o 10 de Junho, viva a Restauração, viva o mais alto Magistrado da Nação. Volto a pôr o link, vale a pena, é o da esquerda, tanta confiança, tão boas competências, viva Portugal.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Deu hoje na internet que o Mausoléu de Lenine em Moscovo pode vir a encerrar por razões económicas. "O estado não deve gastar dinheiro dos contribuintes na manutenção da múmia do chefe do Partido Comunista", diz o director, Vladimir ? (o 24 horas diz 'considera o director, Vladimir ', só assim; estaria a referir-se a Vladimir Ulianov, que também já foi 'director'? faria sentido que tivesse uma palavra a dizer, mas é improvável que venha agora manifestar-se ao arrepio da rígida postura que tem mantido desde há muito; arrepio é a palavra).
A triste ironia que se regista é a de ser o capitalismo a acabar com o monumento, porque a múmia ela própria estava para as curvas e o comunismo não deu ainda tudo o que tinha a dar. Estabelecendo uma analogia, seria o mesmo que o comunismo vir agora acabar com um símbolo máximo do capitalismo. Como os bancos. Felizmente o comunismo não teve essa oportunidade, não lhe faltando o desejo. O próprio capitalismo tratou disso. E os especuladores, idem aspas: derrotou-os o capital, a esses pançudos. Finanças dos países capitalistas? Para o caixote do lixo da História a golpes do capital.
O capitalismo destroi, o comunismo conserva. A União Soviética embalsamou e manteve o corpo do camarada Lenine. A Rússia, vendida ao capitalismo, vai construir um hotel ou um casino onde estava o monumento, aposta O mesmo. Cuba segue fossilizada, Fidel mantém-se cosido, a Coreia do Norte resiste, anquilosada. O PC da China conserva-se, recauchutado.
E o PCP ainda é o que está de melhor saúde, de todos eles!
Por isso, quem quiser qualquer coisa para fazer um vistaço, na hora de escolher uma ideologia para a vida, que opte pelo capitalismo, ou neoliberalismo, ou como lhe queiram chamar. Querendo qualquer coisinha para durar, opte-se pelo comunismo.
A triste ironia que se regista é a de ser o capitalismo a acabar com o monumento, porque a múmia ela própria estava para as curvas e o comunismo não deu ainda tudo o que tinha a dar. Estabelecendo uma analogia, seria o mesmo que o comunismo vir agora acabar com um símbolo máximo do capitalismo. Como os bancos. Felizmente o comunismo não teve essa oportunidade, não lhe faltando o desejo. O próprio capitalismo tratou disso. E os especuladores, idem aspas: derrotou-os o capital, a esses pançudos. Finanças dos países capitalistas? Para o caixote do lixo da História a golpes do capital.
O capitalismo destroi, o comunismo conserva. A União Soviética embalsamou e manteve o corpo do camarada Lenine. A Rússia, vendida ao capitalismo, vai construir um hotel ou um casino onde estava o monumento, aposta O mesmo. Cuba segue fossilizada, Fidel mantém-se cosido, a Coreia do Norte resiste, anquilosada. O PC da China conserva-se, recauchutado.
E o PCP ainda é o que está de melhor saúde, de todos eles!
Por isso, quem quiser qualquer coisa para fazer um vistaço, na hora de escolher uma ideologia para a vida, que opte pelo capitalismo, ou neoliberalismo, ou como lhe queiram chamar. Querendo qualquer coisinha para durar, opte-se pelo comunismo.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Façam férias cá dentro, diz o Presidente.
Na China, o ministro da economia percebe claramente a dupla mensagem: o governo não faz nada e anda a passear na avenida, é uma; vocês, governo, querem que a gente acredite que quer os nossos problemas quer as respectivas soluções estão no resto do mundo, e não cá dentro, é outra. Se é para fazer férias, diz Cavaco, fiquem na barraca que vocês mesmos montaram. É isto mesmo.Talvez o próprio Cavaco não tivesse percebido que era isso que ele mesmo queria mesmo dizer, porque nunca ninguém percebe mesmo, mesmo o que ele diz. Este blog, sim, como o nome indica. Assim, os portugueses, e a conveniência que será passrem cá as férias, são metáfora, são eufemismo e são o objecto que a consciência de Cavaco invoca como substituição do que o subconsciente traz em ebulição: venham cá e fiquem cá a resolver isto. Governo, portugueses, alguém. Governo, é mais o governo, diz O mesmo.
Sendo assim, professor Cavaco, e membros do governo, em vez de irem à China e a outros países em visitas de estado, vão à merda que há no nosso em visitas de estudo; e em caso de verdadeira necessidade vão às embaixadas deles, que isso fica tudo aí em Lisboa e dá para ir a pé; para ir às inaugurações, em vez de se deslocarem em carros de luxo importados vão de carrinha da Autoeuropa; ou de UMM; em vez de pedirem dinheiro emprestado aos estrangeiros, dêem-nos mais a nós; sim, porque agora levam-nos o nosso à força, para o entregar aos de fora; ou somos todos parvos, se calhar.
Na China, o ministro da economia percebe claramente a dupla mensagem: o governo não faz nada e anda a passear na avenida, é uma; vocês, governo, querem que a gente acredite que quer os nossos problemas quer as respectivas soluções estão no resto do mundo, e não cá dentro, é outra. Se é para fazer férias, diz Cavaco, fiquem na barraca que vocês mesmos montaram. É isto mesmo.Talvez o próprio Cavaco não tivesse percebido que era isso que ele mesmo queria mesmo dizer, porque nunca ninguém percebe mesmo, mesmo o que ele diz. Este blog, sim, como o nome indica. Assim, os portugueses, e a conveniência que será passrem cá as férias, são metáfora, são eufemismo e são o objecto que a consciência de Cavaco invoca como substituição do que o subconsciente traz em ebulição: venham cá e fiquem cá a resolver isto. Governo, portugueses, alguém. Governo, é mais o governo, diz O mesmo.
Sendo assim, professor Cavaco, e membros do governo, em vez de irem à China e a outros países em visitas de estado, vão à merda que há no nosso em visitas de estudo; e em caso de verdadeira necessidade vão às embaixadas deles, que isso fica tudo aí em Lisboa e dá para ir a pé; para ir às inaugurações, em vez de se deslocarem em carros de luxo importados vão de carrinha da Autoeuropa; ou de UMM; em vez de pedirem dinheiro emprestado aos estrangeiros, dêem-nos mais a nós; sim, porque agora levam-nos o nosso à força, para o entregar aos de fora; ou somos todos parvos, se calhar.
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