sexta-feira, 11 de junho de 2010

Não é novidade para ninguém que, em matéria de Leis, e de Justiça em geral, Portugal passaria num exame estritamente teórico, mas chumba na prática. Já quanto aos costumes o caso é exactamente o mesmo, que é uma forma completamente diferente de dizer a mesma coisa. Porque essas leis que para aí andam agora, muito avançadas e modernas, como a nova lei do tabaco nos estabelecimentos hoteleiros, estão desfasados da mentalidade do português médio. Que legal ou ilegalmente continua conservador, fumador, machista, leitor de jornais desportivos de preferência com fotos de gajas, tanto vai a Fátima como vê filmes pornográficos, ainda trafica tabaco dentro do próprio café além de o fumar, anti-paneleiro e vota PS. Esta descrição do português médio é ela própria muito teórica, porque eu já a vi enunciada mais ou menos nestes termos mais que inumeríssimas vezes e nunca conheci ninguém assim. Mesmo que fosse legalmente permitido, nós nunca conseguiríamos casar teoria com prática em assunto nenhum, é tão simples quanto isto.
Mas não deixa de ser verdade que nós queremos parecer uma coisa por fora enquanto continuamos a ser outra por dentro. Ter o Expresso a servir de cobertura à Playboy numa esplanada é um caso prático e real disto mesmo. Ouvi falar. Não conheço portugueses médios, como já disse (mas o Expresso e a Playboy ? quem diria! e no entanto é excitante! ‘numa esplanada…’).
Felizmente que a imprensa de hoje está a pôr à prova esta duplicidade do português médio. Ainda não podemos propriamente encontrar lado a lado nos jornais notícias da política ou da economia com reportagens gráficas que cujo título, No convento das Carmelitas descalças, poderia servir de inspiração para produtos de entretenimento ainda mais vilipendiados socialmente, e individualmente desejados, do que a Playboy, ou notícias com abordagens sugestivas a um putativo Clube das Virgens ( como foi a primeira vez), a não ser que cliquemos aqui e aqui. Se depois lermos os comentários dos portugueses médios sobre a virgem que preside a esse clube, repararemos que o preconceito ainda é rei (portugueses médios esses que só aparecem nos comentários da Internet, nunca ninguém os vê; já as corajosas virgens sempre aparecem noutros sítios, para que sejam de facto, por raros e breves instantes, vistas por muitos abençoados). Na reportagem sobre as carmelitas não temos comentários de portugueses médios, mas pensando agora melhor, dou-me conta de que esta é a centésima vez que os media fazem reportagem em conventos. Em média há umas dez reportagens médias por ano sobre o assunto. O que pode ser novo é a consciência de que alguns jornalistas médios talvez levem muitas vezes consigo a visão estereotipada e a curiosidade tacanha de português médio sobre modos de vida desviados… da média. Não sei, nalguns casos pelo menos parece-me que sim. Quanto mais não seja pela repetição.
Já que as leis não mudam os preconceitos médios relativos a freiras, virgens, gays ou swingers, por exemplo, também não mudo os meios preconceitos em relação às leis, ou à sua relevância relativa, nem os que tenho em relação aos portugueses e jornalistas médios - que talvez não existam em teoria, nem uns nem outros.

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