quinta-feira, 24 de junho de 2010

Há uma notícia inesperada a agitar os meios culturais portugueses, soube O Mesmo agora: salas próprias e exclusivas para conversas cultas vão passar a ser obrigatórias por lei em todos os estabelecimentos de restauração e hotelaria. Vir cá fora fazer um bocadinho de conversa sobre qualquer coisa que vá além do fútil, ou de tudo aquilo que são as coisas consideradas social e clinicamente normais, dependendo da perspectiva, que a d’O Mesmo é isenta, também vai ser possível. Desde que os fumadores, que já passam muito por estarem ao frio, não se sintam demasiado incomodados.
Vai outra? Vai: descoberto palácio chinês em Portugal. Tau! (Não só uma onomatopeia, como, curiosamente, o nome da dinastia em cujo estilo provavelmente se enquadra o monumento, pode adiantar O Mesmo; mas convém não esquecer que agora já não se pode falar disso à mesa do café; ping!)
Como é que se explica uma coisa destas? Se O Mesmo não tivesse obtido a informação através do Diário de Notícias não teria acreditado. Um palácio chinês? Imagina-se que debaixo daqueles telhados estilizados existam salas repletas de porcelanas, sedas e jarrões. E deve ter os seus próprios acrobatas, músicos e cantores de ópera, pescadores de barbatanas de tubarão, escribas e sábios, eunucos e concubinas. Em Portugal! E nós o máximo que conseguimos fazer é pavilhões que vendem pastéis de nata em Xangai. Pong!
Ah, esse tipo de palácio. Não deve ter um único eunuco, então. Está bem, ‘palácio’ é uma metáfora. A não ser que se trate na verdade de um estabelecimento que, mesmo sem eunucos – que dão sempre um toque de requinte extra a qualquer casa -, consiga ser sumptuoso de alguma maneira. Claro que se à partida estamos com esta conversa toda é porque efectivamente... não deve ser nada disso. Vejamos: logo NA LEGENDA da foto se lê que funcionava no que parece ser ‘um edifício abandonado’; depois podemos constatar que tem a aparência de ‘loja de produtos chineses’; também fala em 'vasos asiáticos', é certo, mas estes até por aquelas são vendidos (em todas!); depois ‘palacete ([porra!]…) iluminado por luz fluorescente’ (quer dizer [ãhh….] que nem antes de ser um 'edifício abandonado' chegou a ser palácio! mas ao menos a luz fluorescente deve ajudar a devolver alguma sumptuosidade); tem 'karaoke, jogos [uau!] e confortáveis sofás’; mais abaixo um habitué pronuncia-se: ‘não perceber, só vim aqui ao restaurante’. E mesmo a acabar somos ainda contemplados com uma bela passagem da vida palaciana: «(…) “Trabalho num ‘chinoca’, mas não tenho contrato”, gritava a loura de vestido preto.» Tong!
Onde está então o palácio, mesmo se é ‘ (…) do sexo’? Uma metáfora um pouco forçada, não? No mínimo, a bota do título não bate com a perdigota do texto. Será que tudo o que é oriental tem logo que ser exótico? Orientemo-nos. Se fossemos nós os donos do negócio seria uma sorte se lhe chamassem ‘casa de alterne’, quanto mais palácio. E é por isso mesmo que, apesar de sermos amantes incuráveis de Karaoke, não abrimos nenhuma. Fong!!

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